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Lançamento de Ciro abre temporada eleitoral no Brasil

Simone Iglesias

20/07/2018 08h00

(Bloomberg) -- A oficialização da candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República, nesta sexta-feira, abre a temporada das eleições no Brasil. Ainda sem um vice na chapa, a convenção do PDT expõe um problema enfrentado por todos os pré-candidatos: as difíceis negociações com potenciais aliados, já que as pesquisas apontam para uma disputa cheia de incertezas e sem um favorito claro.

Ciro vem recorrendo a todo o espectro político-partidário, do liberal DEM ao esquerdista PSB, para formar uma chapa com maior potencial eleitoral, já que seu partido, o PDT, não tem capilaridade Brasil afora.

A composição dos sonhos para Ciro seria ter o PT como candidato a vice, mas os petistas não abrem mão de manter até o limite a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com isso, a chapa completa só será conhecida em agosto, na reta final do prazo para a realização das convenções partidárias. Entre as possibilidades negociadas estão o empresário Josué Gomes (PR), filho do ex-vice presidente José Alencar, e nomes de partidos do centrão, que oscilam entre o apoio a Ciro e ao tucano Geraldo Alckmin, a depender do potencial eleitoral de cada um no decorrer dos próximos dias.

"Da nossa parte sempre houve vontade de fechar uma aliança com o PT. O problema é que esta não é a opinião majoritária entre os petistas. É legítimo que o PT tenha o seu candidato, seja o ex-presidente Lula, ou outro nome que venha substituí-lo", disse à Bloomberg o líder do PDT na Câmara dos Deputados, André Figueiredo, e um dos coordenadores da campanha presidencial de Ciro. Figueiredo minimizou o fato de o PDT chegar à convenção, hoje, sem um vice. "Temos até 5 de agosto para fechar o nome do vice e a coligação, e estamos dando o tempo que os partidos precisam para tomarem uma decisão."

Ex-ministro da Fazenda, ex-governador do Ceará e candidato a presidente nas eleições de 1998 e 2002, Ciro é conhecido pelo temperamento explosivo e posições polêmicas. Começou a corrida presidencial defendendo a revogação da reforma trabalhista, a suspensão da compra da Embraer pela Boeing, e a expropriação dos campos de petróleo privatizados no governo Temer, propostas que passaram a ser moduladas, há alguns dias, de acordo com o interesse em aliados de partidos de centro e de direita.

Na sua gestão no Ministério da Fazenda, reduziu as alíquotas de importação de milhares de produtos, abrindo o mercado brasileiro, criou a taxa de juros de longo prazo, e apoiou a intervenção no Banerj e no Banestado. Como governador do Ceará, na década de 1990, a economia do estado registrou taxas de crescimento superiores à do Nordeste e à do Brasil.

O temperamento de Ciro é visto como um potencial problema a ser enfrentado pelo candidato na campanha. "Este destemperamento deixa um ar de desconfiança que inviabiliza, como temos visto, os apoios nesse período pré-eleitoral. Ciro Gomes construiu um arquétipo de destemperado que vai demandar muito marketing político para ser alterado", analisa Deysi Cioccari, doutora em Ciências Políticas pela PUC/SP.

No domingo, será oficializada a candidatura do deputado e ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro (PSL), que também está em busca de um candidato a vice. Na primeira semana de agosto, serão oficializadas as candidaturas de Alckmin, Marina Silva (Rede), e realizadas as convenções do MDB e PT, quando se saberá se Henrique Meirelles terá de fato sua candidatura aceita pelos emedebistas e se os petistas manterão Lula na corrida presidencial sem ainda lançar mão de um plano B.