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Investidor ainda espera US$ 170 mil em novela sem fim do Lehman

Lisa Pham

14/08/2018 14h19

(Bloomberg) -- Já se passou uma década desde que o então gestor de fundos de hedge Whitney Tilson, de Nova York, ganhou milhões de dólares apostando contra o Lehman Brothers. Mas ele ainda reclama do lucro que não chegou ao bolso dele.

Tilson tem aproximadamente US$ 170 mil (cerca de R$ 660 mil) presos em uma conta do Goldman Sachs Group porque não devolveu 68.013 ações do Lehman que tomou emprestadas do Goldman para realizar a operação.

Ele afirma que o Goldman não libera o dinheiro com o argumento de que os acionistas podem ter algo a receber como parte do processo de falência do Lehman, que ainda está em curso. O Goldman se recusou a comentar sobre o problema de Tilson ou informar quantos investidores estão na mesma situação.

"Eu achei que a obrigação de devolver 68.013 ações foi extinta quando a instituição quebrou", disse Tilson. "Eu estava errado."

Quem vendeu ações do Lehman a descoberto ganhou fortunas nos meses anteriores ao colapso, no meio de setembro de 2008, o acontecimento que desencadeou a maior crise financeira global desde a Grande Depressão.

Na venda a descoberto, um investidor que espera queda no preço de determinada ação paga uma taxa para tomar papéis emprestados de uma corretora (neste caso, o Goldman) e então vende esses papéis no mercado quando o preço cai. O investidor depois recompra a mesma quantidade de ações a um preço menor para devolvê-las à corretora, cobrindo a posição descoberta.

Aposta (quase) perfeita, Tilson tomou ações do Lehman emprestadas pela primeira vez após acompanhar uma apresentação do gestor de fundos de hedge da Greenlight Capital, David Einhorn, em novembro de 2007, na qual ele ressaltou que o banco tinha muitos ativos podres e excesso de alavancagem (endividamento).

Na época, a ação do Lehman era negociada acima de US$ 60. Tilson repetiu a dose no início de setembro de 2008, quando o papel era cotado a US$ 17. Uma semana depois, o Lehman pediu falência e a ação bateu nos US$ 0,15.

Em vez de recomprar as ações para devolvê-las ao Goldman --o que teria obrigado Tilson a reconhecer o ganho e pagar impostos sobre o mesmo--, o investidor optou por não cobrir a posição descoberta, presumindo que as ações do Lehman seriam eventualmente anuladas.

Não foi bem assim. O Lehman anulou todas as ações existentes em março de 2012, mas tomou a decisão atípica de emitir uma nova ação ordinária para colocar no lugar. Ex-acionistas agora são donos de uma proporção dessa nova ação.

Tilson afirma que o Goldman retém US$ 2,50 por ação emprestada apenas para a eventualidade de os acionistas --geralmente os últimos da fila na hora de receber o que é devido-- conseguirem recuperar algum valor.

De acordo com exigências regulatórias dos EUA, quem vende a descoberto precisa manter uma margem de US$ 2,50 por ação se a ação for cotada abaixo de US$ 5. Ou seja, até aquela única ação ser cancelada, Tilson está de mãos atadas.

Embora credores estejam recebendo algum dinheiro de volta nessas últimas etapas judiciais da falência do Lehman, é praticamente impossível os acionistas reaverem qualquer quantia.

Tilson só se deu conta de que estava sem saída em outubro do ano passado, quando decidiu encerrar seu fundo, chamado Kase Capital Management.

"Meu alerta para quem vende a descoberto: é preciso cobrir a posição descoberta em algum momento antes que a ação pare de ser negociada", disse Tilson, ressaltando que está aliviado por não precisar pagar multas por ter aproveitado a brecha. "Não faça gracinhas para evitar o pagamento de impostos."