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De Raul Seixas a tweet, mulheres pontuam discussão eleitoral

Fabiola Moura

23/08/2018 12h29

(Bloomberg) -- Luiza Helena Trajano, uma das empresárias mais proeminentes do Brasil, reuniu os candidatos na eleição presidencial de outubro para garantir que problemas das mulheres ocupem um lugar central na campanha que está se tornando a mais disputada em décadas. Ela até conseguiu que eles se dessem as mãos e cantassem juntos.

Com algumas regras estritas - nada de vaias, e nada de palmas enquanto os candidatos estivessem falando - os sete candidatos presentes (cinco homens e duas mulheres) responderam a perguntas sobre como pretendem lidar com a violência contra as mulheres, a desigualdade de renda e gênero, educação e saúde se eleitos. Luiza Trajano entregou-lhes pastas com as propostas de seu grupo, que em muitos casos eram mais assertivas sobre os temas do que os planos dos próprios candidatos.

"Estamos aqui para ajudar, não para reclamar", disse a presidente da varejista Magazine Luiza aos candidatos na semana passada diante de uma plateia de 1.000 mulheres de seu grupo Mulheres do Brasil, criado em 2013 por meia dúzia de executivas e que agora tem mais de 19.000 membros. "Nosso comitê estuda o sistema de saúde pública do Brasil há anos e temos uma proposta para corrigi-lo que teremos prazer em compartilhar com vocês."

Os dois candidatos favoritos estiveram ausentes - o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso por ter sido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, e o candidato conservador de direita Jair Bolsonaro. Fernando Haddad, que deve substituir Lula como candidato do Partido dos Trabalhadores, também não estava lá.

O encontro terminou de forma inesperada. O público subiu ao palco, agarrou os candidatos pela mão e cantou uma música de Raul Seixas, compositor falecido da década de 1970, conhecido por suas canções que falam de utopia, muitas delas compostas em parceria com o escritor brasileiro Paulo Coelho. A letra dizia que sonhar juntos transforma o sonho em realidade.

No entanto, a civilidade do evento não durou muito tempo.

Bolsonaro, que lidera as intenções de voto em cenários sem Lula, entrou em confronto com a candidata à presidência Marina Silva sobre a pauta feminina um dia depois, durante um debate televisivo. Depois de uma reportagem da imprensa local em que Bolsonaro lamentava não ter comparecido ao evento feminino, o ex-capitão do exército twittou para seus 1,3 milhão de seguidores: "Quem é Luiza Trajano?"

Sua taxa de rejeição entre as mulheres pulou para 43 por cento, a mais alta entre os candidatos, de acordo com a última pesquisa do Datafolha.