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Pico de preço atual do carbono não vai salvar o planeta

Jeremy Hodges

24/08/2018 14h57

(Bloomberg) -- Mesmo depois de atingir o patamar mais alto em uma década, o custo do carbono na Europa não está nem perto de onde precisa ficar para reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa.

Os futuros do carbono no Sistema de Comércio de Emissões da UE ultrapassaram seu patamar mais alto em uma década nesta semana, superando 20 euros (US$ 23) a tonelada. Embora tenha quintuplicado em pouco mais de um ano, ressuscitando um mercado moribundo, o preço das permissões continua muito baixo e apenas dá um leve estímulo para que a indústria utilize combustíveis menos poluentes.

São necessários pelo menos 50 euros por tonelada para estimular as tecnologias mais cruciais que impedem o fluxo de emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera, segundo analistas da Agência Internacional de Energia e da empresa privada de pesquisa Carbon Tracker. Entre essas tecnologias estão a captura e o armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês), que drena de chaminés industriais os poluentes nocivos à atmosfera e coloca-os no subsolo permanentemente.

"Os mercados de carbono simplesmente não estão proporcionando mudanças na escala e no ritmo necessários", disse Craig Bennett, CEO da Friends of the Earth. "Já passou da hora de que os governos recorram aos bons e velhos impostos, regulamentos e legislações para impulsionar um progresso muito mais rápido".

China e Índia

A tecnologia CCS é crucial porque a implantação dessas usinas permitiria que países como China e Índia continuassem consumindo carvão, algo que consideram essencial para sair da pobreza.

A AIE afirma que a tecnologia CCS é uma parte fundamental das hipóteses plausíveis para limitar as emissões em níveis toleráveis. A agência estima que as usinas precisam responder por 14 por cento da redução das emissões até 2060 para manter o aquecimento global em 2 graus Celsius.

É necessário um aumento de dez vezes na captura de carbono até 2025 para restringir o aquecimento global, o que significa um investimento de US$ 60 bilhões, afirmou a AIE. A fim de cumprir o Acordo de Paris, serão necessárias cerca de 760 gigatoneladas de redução de emissões de CO2 em todo o setor energético, entre agora e 2060.

"O preço do CO2 na faixa de US$ 50 a US$ 100 a tonelada é necessário para equalizar os custos operacionais de usinas a gás e carvão em 2025 na União Europeia", afirmou a AIE em um relatório recente sobre CCS.

Esta seria uma transição gigantesca em relação à situação atual da indústria de CCS. Atualmente, existem 18 instalações de larga escala de CCS em operação em todo o mundo, com mais cinco em construção e outras quatro em desenvolvimento avançado, de acordo com o Global CCS Institute, um grupo que promove essa tecnologia.

"A tecnologia CCS será fundamental para cumprir as metas climáticas, e o aumento de preço do carbono será bem-vindo", disse Luke Warren, CEO da Carbon Capture Storage Association, do Reino Unido. "No entanto, no curto prazo, embora ele seja necessário, não é suficiente. Também são necessárias intervenções políticas direcionadas que possam ajudar a levar essas tecnologias ao mercado."