Japão pode ousar em experiência populacional: Bloomberg Opinion
(Bloomberg) -- A população japonesa está diminuindo. São 127 milhões atualmente. No ano 2050, serão 102 milhões, e então cada vez menos.
O fenômeno causará uma infinidade de problemas. A população que encolhe também envelhece. Um contingente menor de trabalhadores para sustentar um número maior de aposentados significa piora do padrão de vida de todos. Uma população mais velha tende a ser menos produtiva. Uma população menor significa mercado menor, reduzindo o incentivo para as empresas investirem.
E isso tudo certamente diminuirá o poder e importância do Japão no mundo.
Portanto, sobram razões para um esforço para estabilizar a população japonesa. Existem duas maneiras: mais imigrantes e mais bebês. Sob o governo do primeiro-ministro Shinzo Abe, o país está aceitando mais estrangeiros.
Isso pode atenuar o impacto da queda populacional, mas não resolve. Primeiramente, o número de imigrantes necessários para impedir a diminuição da população seria enorme ? mas o Japão não é uma nação de imigrantes e a chegada de dezenas de milhões de pessoas de fora poderia provocar uma reação política perigosa. Em segundo lugar, por causa de salários relativamente baixos e da barreira do idioma, o Japão dificilmente atrai residentes permanentes e altamente qualificados. Ou seja, os imigrantes são principalmente pessoas de menor qualificação que moram lá temporariamente.
Aumentar a taxa de fertilidade seria ótimo. O número de filhos por mulher inclusive subiu do menor nível em registro de 1,26 em 2005 para 1,46 em 2015, mas ainda está muito abaixo da taxa de 2,1 que mantém a estabilidade da população no longo prazo.
A má notícia é que medidas governamentais dificilmente produzem mais bebês. Quase todos os países ricos têm taxa de fertilidade abaixo da taxa de substituição. Talvez o maior caso de sucesso seja a França, que promove o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e dá generosos subsídios para cuidado de crianças. O Japão tenta se inspirar nesse modelo, oferecendo creche mais acessível e pressionando empresas a permitir que os funcionários passem mais tempo em casa.
São boas ideias, mas dificilmente suficientes para estabilizar a população. Felizmente, o governo japonês anda altamente inovador, fazendo experiências com política monetária não convencional, aumento da imigração, estratégias de governança corporativa e outras medidas impactantes. A Terra do Sol Nascente pode ser o local perfeito para experimentar novas ideias para aumentar a taxa de fertilidade. Se bem-sucedidas, essas ideias podem ser exportadas para outras nações desenvolvidas que estão no mesmo barco.
Uma proposta é incentivar as pessoas a morar mais longe das cidades. Casas e apartamentos em áreas urbanas costumam ser pequenos e inadequados para famílias maiores. Talvez por isso a taxa de fertilidade seja mais alta nos subúrbios. Baratear gasolina e estradas facilitaria a vida de quem mora afastado das redes de trilhos e depende de carro.
O Japão também pode usar sua enorme população idosa (além de adolescentes) para cuidar de crianças. Muitos aposentados saudáveis podem gostar de transformar seus lares em pequenas creches. Adolescentes podem ser treinados e certificados como babás ? algo ainda raro naquele país.
Uma terceira via é incentivar jovens a morar em residências coletivas, facilitando atividades sociais e casamentos. No Japão, o isolamento da vida urbana frequentemente impede pessoas de encontrar parceiros definitivos.
Uma estratégia final seria aproveitar a influência da cultura popular. No Brasil, há evidências de que novelas mostrando famílias pequenas contribuíram para reduzir a taxa de fertilidade. O governo japonês pode influenciar produtores de televisão e outras mídias a mostrar famílias com mais filhos vivendo em ambientes modernos.
Há muita especulação nessas propostas. Mas quando nada funciona, é hora de tentar algo ousado e pouco convencional. Com seu governo altamente eficaz e sua recém-descoberta tolerância por pensamentos não tradicionais, o Japão está em posição perfeita para ser o laboratório de táticas de estabilização populacional em países ricos.
Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.
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