Ressurge temor de Brexit provocar 'efeito dominó' na Europa
(Bloomberg) -- No momento em que as negociações do Brexit entram em sua crítica fase final, a União Europeia tem de lembrar da razão pela qual queria jogar duro com o Reino Unido desde o início.
O medo de que a separação do Reino Unido do bloco crie um "efeito dominó" com a saída de mais países voltou, dizem diplomatas em Bruxelas. O antagonismo entre o governo italiano e a UE, a expectativa de vitória de candidatos nacionalistas nas próximas eleições na Suécia e o desafio aos valores democráticos da Europa na Polônia e na Hungria tornam mais firme a resolução de que o Reino Unido não pode parecer ter se beneficiado com o Brexit.
Esses lembretes podem dificultar a tarefa da primeira-ministra britânica, Theresa May, de conseguir concessões da UE. Apesar de não acharem o fracasso das negociações do Brexit interessante, os líderes europeus também não querem abrir a menor possibilidade de que haja imitações.
"Se não monitorarmos o Brexit adequadamente podemos ter um efeito dominó", disse o presidente Emmanuel Macron, em Copenhague, na terça-feira. Com o apoio significativo na eleição francesa do ano passado para o Frente Nacional, partido que apoia o Brexit, Macron tem motivos para manter uma consistente postura linha-dura em relação ao Reino Unido.
Medo dissipado
Quando o Reino Unido decidiu deixar o bloco, em referendo realizado em 2016, o medo de que a saída criasse um precedente em toda a Europa ganhou destaque nas mentes dos líderes da UE. Foi por isso que eles se uniram em torno de uma abordagem considerada desnecessariamente dura e inflexível pelo Reino Unido, mas que as autoridades da UE acreditam ser a única forma de manter o bloco intacto.
A vitória de Macron com uma chapa pró-UE, juntamente com a reeleição do primeiro-ministro holandês, Mark Rutte -- derrotando Geert Wilders, um adversário eurocético e anti-Islã -- ajudou a dissipar o medo dos europeus de que o Brexit provocasse um efeito cascata. A economia europeia respondeu melhor do que o previsto ao choque do Brexit, os 27 governos da UE mostraram uma rara unidade na abordagem adotada para lidar com o Reino Unido e pesquisas mostraram apoio renovado à UE em toda a Europa. Enquanto isso, no Reino Unido, um erro eleitoral e as amargas divisões dentro do governo de May revelaram o custo político da separação.
Agora o medo voltou a Bruxelas. E coincide com o impasse nas negociações do Brexit sobre o relacionamento futuro entre o Reino Unido e a UE e sobre como manter uma fronteira invisível entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. O Reino Unido quer mais concessões da UE, incluindo o direito de permanecer parcialmente no mercado único do bloco. Eles precisam fechar acordo até novembro, no máximo, dizem as autoridades.
Os Democratas Suecos, partido nacionalista que defende um referendo sobre a adesão à UE, são apoiados por 19 por cento dos eleitores, um recorde, segundo pesquisas realizadas antes da eleição geral de 9 de setembro. Os governos polonês e húngaro têm recebido críticas frequentes da liderança da UE pela crescente influência sobre o Judiciário e sobre a liberdade de imprensa.
O governo populista da Itália, por sua vez, criticou Bruxelas durante o verão europeu por políticas para assuntos como imigração e investimentos em infraestrutura e ameaçou vetar o próximo orçamento de longo prazo da UE. O vice-primeiro-ministro da Itália, Matteo Salvini, e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, estão se posicionando como líderes de uma aliança contra o que chamam de elite "iliberal" da UE.
--Com a colaboração de Helene Fouquet e Iain Rogers.
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