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Banco central é única defensa do mercado de câmbio da Argentina

Carolina Millan e Davison Santana

06/09/2018 15h44

(Bloomberg) -- O mercado de câmbio da Argentina quase parou nesta semana quando o peso atingiu novos valores mínimos, com o banco central como o único player para impedir a paralisia total.

Em 4 de setembro, o banco vendeu US$ 358 milhões dos US$ 650 milhões negociados no mercado à vista do peso, cerca de 55 por cento do volume, na tentativa de sustentar o peso. Os traders dizem que a instituição se tornou basicamente o único participante a oferecer moeda forte.

Para colocar isso em perspectiva, da última vez que o banco central do Brasil interveio no mercado de câmbio, em 30 de agosto, vendeu US$ 1,5 bilhão usando derivativos em um pregão cujo volume total foi de quase US$ 38,9 bilhões nesse mercado específico. A intervenção representou apenas 3,9 por cento do total.

A falta de liquidez do peso também significa que os spreads entre as cotações de compra e venda aumentaram, outro fator que está convencendo os traders a ficarem à margem. O spread atingiu quase 3,5 pesos na semana passada, o maior patamar em pelo menos três meses, com base em dados da plataforma de trading eletrônico Buenos Aires MAE.

O volume negociado caiu porque o peso despencou 52 por cento no acumulado no ano. Uma forte queda que começou em abril se intensificou na semana passada, depois que o presidente Mauricio Macri disse que estava procurando acelerar os desembolsos de uma linha de crédito de US$ 50 bilhões com o Fundo Monetário Internacional. O anúncio, combinado com uma aceleração da inflação e com a perspectiva de uma recessão neste ano, assustou os investidores e provocou uma queda de 16 por cento no peso na semana passada. O peso avançou 1,2 por cento nesta quarta-feira.

"A liquidez está melhorando ligeiramente, mas na terça-feira o mercado podia ser considerado um mercado quebrado, com muito pouca atividade no mês", disse Alejandro Cuadrado, estrategista de câmbio do BBVA para a América Latina em Nova York. "A conclusão é que é cedo demais para dizer que se estabilizou."

Então, o que vem aí para o peso argentino? Os investidores estão à procura de pistas nas negociações em Washington, onde representantes do governo e do banco central estão reunidos com a diretora do FMI, Christine Lagarde, e sua equipe para revisar o acordo original. Esse será o próximo catalisador para ajudar a ancorar as expectativas de curto prazo para o peso, disse Cuadrado.

"A partir daí, vamos poder conversar sobre a reconstrução do mercado e a redução da volatilidade", acrescentou Cuadrado. "Mas é difícil ver um retorno significativo de fundos. O apetite por títulos em dólares está aumentando aos poucos, mas o apetite pelo peso argentino continuará sendo limitado."

Repórteres da matéria original: Carolina Millan em Buenos Aires, cmillanronch@bloomberg.net;Davison Santana em São Paulo, dsantana6@bloomberg.net