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Papa enfrenta crise em Roma e alerta de cisão na China

John Follain

17/09/2018 11h56

(Bloomberg) -- O papa Francisco enfrenta críticas do alto clero no Vaticano e está diante de um alerta de que a Igreja Católica Romana pode sofrer uma divisão devastadora na Ásia.

O cardeal Joseph Zen -- ex-arcebispo aposentado de Hong Kong, mas que ainda faz declarações públicas -- disse à Bloomberg News no mês passado que escreveu a Francisco para denunciar os esforços do Vaticano para chegar a um acordo histórico com Pequim para a nomeação de bispos na China. Em carta enviada em julho, Zen advertiu que um acordo como esse, que pode eliminar uma barreira para o restabelecimento das relações diplomáticas com Pequim, também pode criar um cisma entre os fiéis locais.

"Francisco é otimista demais", disse Zen, 86. "O problema é que ele não conhece o governo chinês. Ele não tem experiência com regimes comunistas."

Os comentários de Zen ressaltam outra possível preocupação para Francisco em um momento em que ele enfrenta acusações do ex-enviado do Vaticano a Washington de que ignorou as advertências em 2013 a respeito de supostos abusos sexuais do cardeal americano Theodore McCarrick. O papa preferiu não comentar as acusações e na quarta-feira convocou os principais bispos para uma cúpula em fevereiro para discutir a prevenção de abusos sexuais por parte do clero.

O Wall Street Journal informou na semana passada que a China e o Vaticano podem fechar um acordo ainda neste mês. Segundo o acordo, os dois lados teriam voz na nomeação de bispos da Igreja na China, de acordo com a reportagem, que citava fontes não identificadas a par da situação.

O papa está se expondo a outra batalha no mundo em desenvolvimento, disse Zen. A disputa na China -- como tantas na longa história da Igreja -- se concentra em quem pode nomear bispos, se é o papa ou o governo da China.

Apesar de as negociações se arrastarem há anos, em entrevista concedida em junho à Reuters Francisco mostrou otimismo em relação à melhora dos laços. A principal exigência da China é que o Vaticano reconheça formalmente sete bispos chineses excomungados nomeados pelo governo sem a aprovação do papa, segundo o Wall Street Journal.

Mas chegar a um acordo com o Partido Comunista, que é oficialmente ateu, tem sido difícil, especialmente porque o presidente Xi Jinping está comandando a repressão mais abrangente à liberdade religiosa desde que ela foi incluída na constituição do país, em 1982. As autoridades chinesas prenderam padres católicos, destruíram igrejas e tiraram cruzes do alto de igrejas.

Os católicos da China, estimados em 12 milhões, estão atualmente divididos entre a Associação Patriótica Católica, uma autoridade estatal na qual o governo nomeia os bispos, e uma Igreja "clandestina" leal ao papa.

O Vaticano preferiu não comentar as palavras de Zen, ou as negociações com a China. Em janeiro, o Vaticano repreendeu Zen -- sem citá-lo -- por "fomentar confusão e controvérsia" depois que ele sugeriu que Francisco não estava totalmente informado sobre a estratégia dos funcionários do Vaticano para a China.

--Com a colaboração de Adela Lin.