Trader fantasma abala mercado de energia mais antigo do mundo
(Bloomberg) -- Durante quase duas décadas, Einar Aas foi o trader mais bem-sucedido em um dos maiores mercados de energia da Europa. Ele também era um fantasma.
Todos os outros traders o conheciam de nome, mas quase ninguém o conhecia pessoalmente. Aas, 47, não participava de reuniões de traders, conferências e nem de outros encontros do setor. Ele passava a maior parte do tempo em casa, fazendo enormes apostas no setor de energia nórdico em Grimstad, uma pequena cidade litorânea a três horas ao sul de Oslo. Lá, ele acumulou uma fortuna negociando por conta própria -- em 2016 ele se tornou o maior contribuinte individual da Noruega. Neste ano, ele fez uma aposta grande demais.
Na quinta-feira, a Nasdaq, cujo mercado financeiro do setor de energia nórdico é usado por mais de 160 traders do norte da Europa, anunciou que havia expulsado Aas porque ele acumulou milhões de euros em prejuízos que não conseguiria compensar.
Aas é extremamente tímido. Ele comprou uma casa enorme à beira-mar em 2004 e depois gastou muitos milhões comprando propriedades ao redor dela para garantir sua privacidade. Aparentemente, ele nunca concedeu nenhuma entrevista. Tentativas de entrar em contato com ele depois do escândalo não foram bem-sucedidas.
A Bloomberg reconstruiu a história de sua ascensão e queda a partir de conversas com outros traders, que pediram anonimato por falar sobre um concorrente, e de reportagens da imprensa norueguesa.
Aas é o terceiro de quatro irmãos que cresceram em uma fazenda nos arredores de Grimstad. Sua facilidade com os números ficou clara desde pequeno: ele tinha notas altas e foi descrito no álbum da escola como o "bookmaker da classe". Ex-colegas de classe e da escola disseram que ele gostava de jogar pôquer e de apostar em cavalos.
Aas começou a trabalhar como gestor de risco na Interkraft Trading, mas logo começou a trabalhar por conta própria. Seu antigo chefe, Lars Eckhardt, disse que ele chegava no escritório antes de todo mundo e que entendia a relação entre risco e retorno. Em pouco tempo, ele se tornou seu melhor trader. Aas saiu em 2001 para montar sua própria empresa, a Kraftinvest. A partir de 2005, ele passou a negociar em seu próprio nome.
Período de sucesso
No início da década passada, os mercados de energia, da eletricidade ao petróleo e ao carvão, tiveram um período de sucesso que durou anos -- até que a crise financeira estrangulou as linhas de crédito para as negociações e os preços despencaram. E, embora Aas tenha sofrido perdas, como a maioria dos traders, desde 2002 ele registrou um lucro tributável total de 3,5 bilhões de coroas (US$ 420 milhões).
Um trader que o admira disse que, apesar da perda enorme, não dá para esquecer que durante 15 anos ele provavelmente fez apostas maiores e melhores do que qualquer outra pessoa em todo o mercado.
A transação que encerrou o histórico de sucesso de Aas foi uma aposta de que o spread entre a eletricidade nórdica e a alemã diminuiria. Quando o mercado abriu na segunda-feira, as licenças de emissão de carbono, a commodity de melhor desempenho neste ano, estavam em alta. Isso ajudou a empurrar o mercado alemão para cima, mas, ao mesmo tempo, as previsões meteorológicas de mais chuvas provocaram a maior queda do contrato nórdico do ano que vem desde janeiro de 2017. Aas estava em problemas.
Em uma declaração para o jornal Dagens Naeringsliv na quinta-feira, Aas disse que tinha tomado uma posição que era grande demais em relação à liquidez do mercado. Depois de "mudanças de preço extraordinárias" nos contratos nórdicos e alemães, ele foi forçado a pagar para a bolsa seus últimos fundos líquidos disponíveis. Isso não era suficiente e, às 8h20 da terça-feira, Aas foi declarado inadimplente e colocado sob administração.
Seu portfólio foi liquidado na noite de quarta-feira. Foi comprado por um dos maiores traders do mercado, segundo uma pessoa a par do leilão, que pediu para não ser identificada porque a informação é confidencial. Quatro empresas foram convidadas para participar do leilão.
--Com a colaboração de Mathew Carr, Niklas Magnusson, Jesper Starn e Hanna Hoikkala.
Repórteres da matéria original: Lars Paulsson em Londres, lpaulsson@bloomberg.net;Mikael Holter em Oslo, mholter2@bloomberg.net
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