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Emergentes perdem medo de taxa de papéis do Tesouro americano

Justin Carrigan e Srinivasan Sivabalan

19/09/2018 13h07

(Bloomberg) -- Quem tem medo da alta do rendimento dos títulos do Tesouro americano?

Não os mercados emergentes ? pelo menos desta vez. A consolidação da taxa do papel de 10 anos acima de 3 por cento não foi capaz de valorizar o dólar e as bolsas de países em desenvolvimento subiram pela quinta vez em seis dias, enquanto as moedas da Turquia e África do Sul lideraram o avanço da categoria no mercado de câmbio. Os spreads médios dos títulos denominados em dólar de países emergentes tiveram redução notável.

Os ganhos se deram em meio à escalada da tensão comercial entre China e EUA, possivelmente animando quem vê luz no fim do túnel após cinco meses tumultuados em que os preços de ativos desabaram da Indonésia à Turquia e Argentina. O desempenho recente também fortalece o otimismo que surgiu na semana passada após Turquia e Rússia tomarem decisões mais agressivas do que se esperava em relação aos juros.

"As moedas encontraram um piso por ora e a disparada tática talvez tenha algum espaço para avanço adicional, já que os bancos centrais de mercados emergentes vieram ao resgate com aumentos nos juros", disse o estrategista Bernd Berg, da Woodman Asset Management, de Zug, na Suíça. "Os fundamentos gerais ainda são sólidos e as taxas de câmbio estão baratas em alguns mercados emergentes após a reprecificação agressiva" durante o terceiro trimestre.

Berg não é o único que pensa assim. Chris Siniakov, da Franklin Templeton, e Philip Moffitt, da Goldman Sachs Asset Management, também esperam alívio nas perdas em mercados emergentes.

Algumas tendências embasam essa expectativa. Primeiramente, as posições vendidas estão sendo cobertas em velocidade expressiva, em um sinal claro de que o pessimismo em relação aos emergentes começou a diminuir. Em segundo lugar, a correlação entre os títulos de mercados emergentes e os papéis do Tesouro americano é a menor em dois anos, sugerindo que a taxa de referência nos EUA acima de 3 por cento não é obstáculo para as dívidas de nações em desenvolvimento ? contanto que o dólar permaneça sob controle.

Investidores vendidos (que tentam ganhar com quedas nos preços dos ativos) estão correndo para reduzir posições abertas, retirando nas últimas seis semanas US$ 2,1 bilhões de contratos que apostam no recuo dos três maiores fundos negociados em bolsa (exchange-traded funds ou ETFs) dos EUA que aplicam em ações de países emergentes.

No mercado de câmbio, previsões feitas em julho também estão se concretizando. A expectativa era que as moedas de países emergentes começariam a subir junto com o rendimento dos títulos do Tesouro americano, à medida que a correlação entre o dólar e esses papéis diminui ? indicando que a dinâmica da guerra comercial começou a influenciar mais o dólar do que os custos de captação.

Tudo isso reacende o interesse de investidores por títulos denominados em dólar de nações em desenvolvimento, como mostra a queda no relacionamento linear entre o rendimento das dívidas de países emergentes e o rendimento dos papéis do Tesouro americano para o menor patamar em dois anos.

Mas ainda há receio no ar após o período de perdas mais longo desde a crise financeira de 2008. A State Street Global Advisors está entre as gestoras de recursos que veem espaço para mais quedas. A firma está "bastante cautelosa" em relação a mercados emergentes no curto prazo por causa da tensão comercial, disse a vice-diretora global de investimentos, Lori Heinel.

Ainda assim, a menor influência dos rendimentos dos papéis do Tesouro sugere que os mercados emergentes estão se ajustando ao fim da fase de dinheiro fácil e que o foco passou a ser o comércio global como risco principal. Os investidores estarão de olho em sinais de que o dólar chegou ao ponto máximo antes de entrarem de cabeça em ativos que já consideram baratos demais para serem ignorados.

Repórteres da matéria original: Justin Carrigan em Dubai, jcarrigan@bloomberg.net;Srinivasan Sivabalan em Londres, ssivabalan@bloomberg.net