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Investigação da Tesla por tuíte de Musk abriria caixa de Pandora

Tom Schoenberg, Greg Farrell e Matt Robinson

19/09/2018 15h58

(Bloomberg) -- Bastou um único tuíte de Elon Musk, presidente do conselho da Tesla, para levar o Departamento de Justiça dos EUA a investigar a companhia. Mas, agora que os promotores começaram, eles podem procurar outros indícios de conduta inapropriada da fabricante de carros elétricos.

A investigação está na etapa inicial e ainda é cedo demais para saber o rumo que pode tomar. Os órgãos de regulação, no entanto, já estavam examinando as projeções de produção de carros da empresa antes de Musk tuitar sobre a possível privatização da companhia.

Muitas investigações sobre fraude de títulos ao longo dos anos começaram com um estrondo como o que derrubou as ações da Tesla em até 6,6 por cento quando a Bloomberg publicou uma reportagem sobre a investigação, na terça-feira.

Em alguns casos, as notícias acabam desaparecendo sem que sejam feitas acusações. No outro extremo estão os casos de empresas como a Theranos, que aumentou sua avaliação com falsas promessas, segundo o governo dos EUA, o que levou a acusações contra a fundadora Elizabeth Holmes e outro executivo sênior.

"As investigações criminais nunca são boas para as empresas de capital aberto, porque abrem uma caixa de Pandora e os promotores seguirão as pistas até onde elas os levarem", disse Paul Pelletier, ex-promotor do Departamento de Justiça dos EUA.

O New York Times informou na terça-feira que o Goldman Sachs Group e a empresa de private equity Silver Lake receberam intimações da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês) sobre suas interações com a Tesla, citando pessoas informadas sobre as intimações. O Goldman Sachs e a Silver Lake preferiram não comentar.

Cooperação

A Tesla afirmou que está cooperando com o Departamento de Justiça dos EUA e observou que havia recebido consultas, mas nenhuma intimação.

A investigação inicial envolve o tuíte de Musk de 7 de agosto, em que ele afirmou que tinha dinheiro para fechar o capital da companhia. As ações dispararam. Mais tarde, ele e seu conselho disseram que não havia nenhuma proposta formal para o financiamento e abandonaram o plano.

A Comissão de Valores Mobiliários rapidamente abriu uma investigação civil sobre o tuíte e emitiu uma intimação para obter informações, disseram pessoas a par do assunto à Bloomberg. Depois, surgiu a investigação do Departamento de Justiça. Nem a SEC nem os promotores federais acusaram Musk de nenhuma irregularidade.

Para provar a fraude criminal de títulos, os promotores teriam que provar que as declarações de Musk eram falsas e também que elas foram feitas intencionalmente. Isso exigiria estabelecer que Musk planejava propositadamente elevar as ações de forma inadequada ou evitar que elas caíssem.

Uma área em que os investigadores procurariam tais evidências é em e-mails ou outros documentos internos, de acordo com ex-promotores federais.

Musk muitas vezes desabafou nas redes sociais suas frustrações com os vendedores a descoberto. Em maio, Musk tuitou que estava esperando a "venda a descoberto do século" e sugeriu que os investidores que estivessem apostando contra a empresa começassem a "ir de fininho para a porta de saída".

O tuíte sobre o "financiamento garantido", na verdade, atrapalhou os vendedores pessimistas, porque as ações da empresa subiram mais de 10 por cento. Os investigadores do governo tentarão determinar se houve alguma relação entre essa afirmação e o desejo de Musk de prejudicar os vendedores a descoberto.

--Com a colaboração de Dana Hull.

Repórteres da matéria original: Tom Schoenberg em Washington, tschoenberg@bloomberg.net;Greg Farrell em N York, gregfarrell@bloomberg.net;Matt Robinson em N York, mrobinson55@bloomberg.net