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Irã alerta que vetará qualquer decisão desfavorável da Opep

Golnar Motevalli

20/09/2018 13h01

(Bloomberg) -- O Irã anunciou que vai vetar qualquer decisão da Opep que prejudique a República Islâmica e alertou que alguns produtores de petróleo estão tentando criar um fórum de fornecedores alternativos a favor das políticas dos EUA que são hostis ao governo em Teerã.

O ministro do Petróleo, Bijan Namdar Zanganeh, disse que o acordo fechado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e pelos produtores aliados em 2016 para reduzir a produção está esfrangalhado e que um comitê da Opep que deve se reunir neste fim de semana em Argel não tem autoridade para impor um novo acordo sobre a oferta.

"Vou vetar qualquer decisão da Opep que represente até mesmo a mínima ameaça ao Irã", disse Zanganeh, sem especificar medidas que ele poderia tomar. Qualquer decisão sobre um novo acordo de produção tomada pelo Comitê Ministerial de Monitoramento Conjunto da Opep (JMMC, na sigla em inglês), que se reunirá no domingo, seria "nula" e "inválida", disse ele. "Só é possível tomar decisões em reuniões da Opep na presença de todos os países-membros da Opep e com o consenso dos países-membros."

Isolamento crescente

Os comentários de Zanganeh refletem a preocupação do Irã com seu isolamento crescente dentro da Opep e com a campanha encabeçada pelos EUA para sufocar suas exportações de petróleo com sanções. Uma incipiente parceria entre sua arquirrival, a Arábia Saudita, e a Rússia está dando sinais de eclipsar a proeminência da Opep como fonte global de petróleo bruto. Teerã considera que a Arábia Saudita, o maior país-membro do grupo, está conspirando com outros produtores para roubar sua participação no mercado. Ao mesmo tempo, o aliado tradicional do Irã dentro da Opep - a Venezuela - está tendo dificuldade para evitar um colapso econômico.

A pressão sobre o Irã ficou mais forte desde que o presidente dos EUA, Donald Trump, se retirou do acordo diplomático negociado por Barack Obama para acabar com o programa nuclear de Teerã. As sanções dos EUA contra as vendas de petróleo do Irã entrarão em vigência em 4 de novembro, e Trump prometeu zerar as exportações do terceiro maior produtor da Opep. As remessas de petróleo bruto iraniano já caíram cerca de 35 por cento desde abril, segundo dados de monitoramento de petroleiros da Bloomberg.

"Qualquer país que afirme que pode compensar o déficit no mercado está do lado dos EUA", disse Zanganeh aos jornalistas em Teerã. Ele disse que escreveu cartas a alguns ministros do Petróleo de países-membros da Opep e de outros países manifestando seus receios e que reclamou ao secretário-geral do grupo contra as "violações" do acordo original de redução da produção, mas preferiu não entrar em detalhes.

Sem acordo

Zanganeh disse que ele não comparecerá à reunião do JMMC na Argélia, que será realizada poucos dias antes do 2° aniversário da decisão da Opep de reduzir a produção e conter o excesso de oferta. Rússia e outros fornecedores concordaram, em dezembro de 2016, em aderir à redução da produção proposta pela Opep. A medida surtiu o efeito desejado, e em junho deste ano a Arábia Saudita e a Rússia decidiram mudar de rumo e aumentar a oferta para conter um aumento dos preços.

"O acordo já não existe mais, na verdade. Acabou", disse Zanganeh. A Rússia eliminou 300.000 barris diários de produção no começo, mas depois reinseriu tudo de volta, disse ele. "Não resta nenhum acordo, na verdade."