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Morte da bilionária Hélène Pastor vai a julgamento na França

Gaspard Sebag

21/09/2018 13h01

(Bloomberg) -- Para um réu de assassinato, Wojciech Janowski não ajudou muito a própria defesa.

Primeiro, ele negou ter tido algo a ver com o assassinato, em 2014, da mulher mais rica de Mônaco, mãe de sua companheira de longa data. Depois, ele admitiu para a polícia que tinha ordenado o assassinato. Depois, ele se retratou da confissão.

O julgamento dos acusados do assassinato em Nice de Hélène Pastor, que tinha uma fortuna de cerca de US$ 3,7 bilhões no ano em que morreu, começou nesta semana. Os detalhes apresentados no tribunal já revelam o que os promotores consideram ser uma equipe de assassinos desajeitados e sem noção --, mas brutais.

"Eu sou inocente. Não cometi nenhum crime. Só isso", disse Janowski na segunda-feira, dia do início do julgamento, falando em francês com um leve sotaque quando o juiz Pascal Guichard pediu que ele declarasse sua posição no caso.

Os investigadores dizem que Janowski pagou 140.000 euros (US$ 165.000) a quatro homens para matarem Hélène, que tinha 77 anos. O suposto motivo: ele temia que Hélène pudesse mantê-lo afastado da fortuna da família, o clã que construiu grande parte dos arranha-céus de Mônaco e possui milhares de apartamentos na cidade-estado. O motorista de Hélène, Mohamed Darwich, também foi assassinado pelos tiros disparados contra o Lancia Voyager preto dela.

Os assassinatos provocaram ondas de choque em Mônaco e na França. Hélène Pastor, cuja empresa familiar existe desde 1920, era extremamente reservada. Em um principado com alguns dos imóveis mais caros do mundo, a renda de Hélène obtida com aluguéis permitia que ela desse à filha e ao filho, Gildo, mesadas de 500.000 euros cada.

A equipe de defesa de Janowski se empenhará durante o julgamento, que vai durar um mês em Aix-en-Provence, na França, em incutir dúvidas na cabeça do júri e sugerir que o polonês de 69 anos foi induzido a fazer uma confissão forçada, cujas implicações ele não compreendeu plenamente.

Outra característica marcante do julgamento: o amadorismo dos acusados, dois homens que, segundo os promotores, foram recrutados por meio do personal trainer de Janowski e de um intermediário. Eles deixaram tantas pistas que já estavam atrás das grades poucas semanas depois de terem supostamente assassinado Hélène em 6 de maio de 2014, quando ela saía de um hospital em Nice, onde visitou o filho.

O chefe da Polícia Judiciária de Nice, Philippe Frizon, passou a maior parte da manhã de terça-feira enumerando os "enormes erros" cometidos pelos suspeitos, que permitiram que a polícia chegasse aos mandantes. "Normalmente, não conseguimos ir além dos agressores", disse ele.

Ficou claro para a polícia que alguém havia ordenado que os dois homens cometessem o crime. Para descobrir quem, os investigadores se perguntaram: "Quem tem interesse no desaparecimento de Hélène?", disse Frizon. Essas investigações os conduziram a Pascal Dauriac, o personal trainer de Janowski e de sua companheira, Sylvia Ratkowski -- filha de Hélène. Dauriac se declarou culpado.

Janowski se retratou da confissão mais tarde em 2014, argumentando que sua compreensão do idioma francês não era boa o suficiente para entender plenamente o que ele estava admitindo. Ele morou em Mônaco, um principado francófono, durante cerca de 30 anos.

O julgamento deverá seguir até 19 de outubro e depois o júri deliberará.