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Rali de 140% da Forjas Taurus parece tão incerto quanto eleição

Vinícius Andrade

24/09/2018 18h26

(Bloomberg) -- Ações da fabricante brasileira de armas de fogo Forjas Taurus mais do que dobraram de valor neste ano com aposta de que o candidato a favor de armas, Jair Bolsonaro, vá ganhar a eleição presidencial. Com a vitória incerta e os fundamentos da empresa enfraquecidos, os investidores estão olhando com mais cautela para o movimento.

Bolsonaro se comprometeu a afrouxar as leis de controle de armas, fornecer mais armas de fogo para policiais e recompensá-los quanto mais criminosos eles matarem. Bolsonaro e seus seguidores regularmente exibem um gesto com as mãos simulando uma arma - até mesmo no hospital, onde o candidato está se recuperando após ser esfaqueado no início deste mês.

O capitão da reserva está à frente nas pesquisas de opinião há meses e deve enfrentar o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad em um provável segundo turno. No entanto, a liderança que ele tinha sobre Haddad nas simulações de segundo turno desapareceu nos últimos dias, e a maioria das pesquisas agora mostra os candidatos em empate.

Se Bolsonaro não for eleito, as ações da Forjas Taurus devem devolver quase todos os ganhos recentes, disse Glauco Legat, analista-chefe da corretora Spinelli.

A Taurus não respondeu a pedido de comentário.

Carga pesada

Mesmo que Bolsonaro vença, a empresa ainda tem uma dívida enorme para lidar, de acordo com Wagner Salaverry, sócio e diretor da Quantitas Gestão de Recursos. A dívida total da Forjas Taurus aumentou para um recorde de R$ 798 milhões no ano passado, enquanto caixa e equivalentes diminuíram para apenas R$ 9,5 milhões.

"O investimento nas ações me parece bastante arriscado", disse Salaverry.

A empresa tem sido atormentada por questões legais sobre armas supostamente defeituosas e acusações de vendas irregulares ao governo do Djibuti. A Forjas Taurus registrou prejuízos líquidos todos os anos desde 2013, que cresceram para R$ 286 milhões em perdas no ano passado, o pior já registrado. Antes do rali deste ano, as ações eram negociadas em torno de R$ 1 ou R$ 2 desde 2015. Em 2013, valiam cerca de R$ 26.

Uma vitória de Bolsonaro melhoraria as perspectivas para a empresa sediada em São Leopoldo, aumentando as vendas. Mas a "cereja do bolo" seria uma mudança na legislação sobre armas, disse Legat.

Os legisladores estão debatendo se devem derrubar o chamado "Estatuto do Desarmamento", uma lei que restringe severamente a posse e o uso de armas pelos civis. A ideia contraria os mais recentes alertas nos EUA para maior controle de armas, assim como a tendência mundial de restringir o acesso a armas de fogo vistas na Austrália, Reino Unido, Canadá, Nova Zelândia e Alemanha.

A mensagem a favor das armas de Bolsonaro ressoou em boa parcela de brasileiros, desiludidos com o aumento do crime e da corrupção. Um recorde de 63.880 pessoas foram mortas no ano passado, segundo um relatório do Fórum de Segurança Pública do Brasil ou cerca de 175 pessoas por dia.