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Fundo soberano norueguês reforça argumento contra petrolíferas

Mikael Holter

03/10/2018 15h04

(Bloomberg) -- Com US$ 1 trilhão em ativos, o fundo soberano da Noruega está reforçando argumentos para se livrar de suas enormes posições em ações de empresas de petróleo e gás.

Em apresentação feita no mês passado a importantes congressistas ? à qual a Bloomberg teve acesso ?, o presidente da instituição, Yngve Slyngstad, afirmou que o fundo teria ganhado 308 bilhões de coroas norueguesas (US$ 38bilhões) a mais na última década se não tivesse aplicado no setor.

O cálculo fortalece o raciocínio do fundo, que no ano passado surpreendeu os mercados ao anunciar que pretendia vender papéis dessas companhias para reduzir a exposição total da Noruega ao petróleo.

Os dados inéditos foram exibidos em um momento de debate interno no país sobre o que fazer com as posições do fundo em ações de petróleo e gás, que somam cerca de US$ 40 bilhões.

O parlamento tende a aprovar o plano, mas os dois partidos da coalizão de governo até agora não se posicionaram. Em agosto, uma comissão especializada fez uma recomendação contra a proposta, ao concluir que se livrar de ações de petrolíferas limitaria apenas marginalmente o efeito da queda de preços do barril sobre a riqueza da Noruega, que é a maior produtora de petróleo e gás da Europa Ocidental.

Os números do fundo mostraram que o retorno teria sido maior se tivesse saído das ações de petróleo antes do colapso do preço do barril, em 2014, e reaplicado os recursos no índice de referência do resto do fundo. Uma venda desses papéis em 2013 teria rendido 136 bilhões de coroas adicionais e até a venda em 2015 teria gerado 9 bilhões de coroas a mais.

A divisão do banco central que administra o fundo, chamada Norges Bank Investment Management (NBIM), se recusou a comentar. O fundo e o banco central não comentaram diretamente os contra-argumentos do relatório do painel de especialistas até agora e só declararam que a proposta foi mantida.

A proposta do fundo abalou os mercados no ano passado e derrubou ações de petrolíferas. O banco central insiste que o plano se baseia somente em considerações financeiras, com o objetivo de reduzir a exposição a risco do país, e que não reflete uma expectativa para a cotação do barril.

A apresentação da NBIM no escritório de Nova York, na manhã de 21 de setembro, foi um dos diversos eventos na agenda de integrantes do Comitê de Finanças do parlamento norueguês em visita à cidade naquela semana.

O parlamentar Svein Roald Hansen, do Partido Trabalhista, de oposição, afirmou que Slyngstad não apresentou os números como argumento direto a favor da proposta do fundo ou contra o painel de especialistas liderado pelo professor de Economia Oystein Thogersen. Ainda assim, as conclusões foram "informações úteis", disse ele.

"Quando chegarmos ao momento de considerar a proposta, também haverá a pergunta sobre o que corremos o risco de perder", lembrou Hansen. "Pelo menos alivia a preocupação associada a essa decisão."

O Partido Trabalhista é o maior do parlamento norueguês e expressou apoio cauteloso ao plano, mas a decisão final só será tomada após a apresentação da visão do governo, liderado pelos conservadores, no segundo trimestre do ano que vem.

O Ministério das Finanças tinha se programado para apresentar a opinião neste ano, mas adiou a data para fazer uma consulta pública sobre o relatório de Thogersen. A opinião do banco central também foi solicitada.

"Não quero especular ou fazer qualquer interpretação política sobre o conteúdo dessas apresentações", afirmou Mudassar Kapur, integrante conservador do Comitê de Finanças, que também esteve presente durante a apresentação. "Estamos aguardando o Ministério das Finanças mostrar suas avaliações."