Fiasco do gás evidencia como equilíbrio é difícil na Argentina
(Bloomberg) -- Na semana passada, o governo do presidente Mauricio Macri informou aos argentinos que eles teriam que pagar uma quantia devida às empresas de gás natural após uma desvalorização cambial. Agora o governo voltou atrás e vai tirar o dinheiro do próprio caixa.
O fiasco evidencia a dificuldade enfrentada por Macri ao tentar agradar investidores e eleitores, sem contar os políticos de oposição e, agora, o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Entre os deslizes estão um discurso televisionado, em agosto, para acalmar os argentinos a respeito da desvalorização do peso -- com o qual Macri assustou os mercados e piorou a depreciação. Houve também um atrapalhado corte nos subsídios à energia, em 2016, com o objetivo de reduzir o déficit fiscal -- a Justiça reverteu a decisão porque o governo não havia realizado audiências públicas.
Agora, Macri precisa que os parlamentares de oposição aprovem seu orçamento para 2019. O orçamento já inclui impopulares medidas de austeridade necessárias para assegurar bilhões em financiamento do FMI. Assim, quando os parlamentares rechaçaram as cobranças pelo gás, que teria afetado eleitores que já sofrem com o menor poder aquisitivo em meio a uma inflação de 30 por cento, Macri cedeu.
Mas trata-se de um difícil exercício de equilíbrio. Qualquer percepção de que as pressões políticas o impedirão de cumprir as metas do FMI deixará os investidores em alerta.
As críticas de Alfonso Prat-Gay, ex-ministro da Fazenda e Finanças Públicas do governo de Macri, demonstraram que o fiasco ressuscitou velhos problemas.
"O episódio das tarifas retroativas [do gás natural] ratifica que falta diálogo ao governo", disse ele, no Twitter. "Sem diálogo franco, generoso e produtivo não há saída para o difícil momento que atravessamos como sociedade."
Repórteres da matéria original: Jonathan Gilbert em Buenos Aires, jgilbert63@bloomberg.net;Patrick Gillespie em Buenos Aires, pgillespie29@bloomberg.net
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