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Briga de bilionários opõe reis da carne e herdeiro da celulose

Os irmãos Wesley (esq.) e Joesley Batista, sócios da J&F Investimentos, em foto de 2013 - Zanone Fraissat /Monica Bergamo
Os irmãos Wesley (esq.) e Joesley Batista, sócios da J&F Investimentos, em foto de 2013 Imagem: Zanone Fraissat /Monica Bergamo

Gerson Freitas Jr.

17/10/2018 20h01

(Bloomberg) -- Joesley e Wesley Batista, os magnatas brasileiros da carne que foram envolvidos em um escândalo de corrupção no ano passado, agora se encontram no meio de uma disputa com um herdeiro da família Widjaja, da Indonésia.

Há um ano, os irmãos Batista concordaram em vender a Eldorado Brasil Celulose para a Paper Excellence Group, uma empresa sediada na Holanda e de propriedade de Jackson Widjaja, neto do magnata sino-indonésio Eka Widjaja.

A oferta de R$ 15 bilhões (US$ 4 bilhões), vista como alta demais para rivais brasileiros do setor da celulose, veio como uma oportunidade única para os Batistas, que corriam para vender ativos após firmar um acordo de delação premiada que atingiu em cheio a JBS.

No início do mês passado, porém, a J&F Investimentos, holding dos Batista, informou que havia decidido exercer o direito de encerrar o acordo depois que a Paper Excellence não cumpriu o prazo de 12 meses para a conclusão do trato. A empresa de Widjaja, que já havia comprado uma participação de 49,4% na Eldorado, permaneceria como sócia minoritária, enquanto os brasileiros manteriam o controle, disse a J&F.

A Eldorado é atualmente comandada por Aguinaldo Ramos Filho, o sobrinho de 25 anos de Wesley e Joesley, que também tem um assento no conselho do JBS.

Isso levou a Paper Excellence a abrir um processo de arbitragem contra a J&F em São Paulo. A empresa holandesa, cujas operações estão localizadas no Canadá e na França, diz que tem dinheiro para concluir o negócio e acusa os Batistas de sabotá-lo, criando dificuldades e obstáculos depois que um aumento nos preços da celulose inflou o valor patrimonial da Eldorado, segundo documentos judiciais aos quais a Bloomberg teve acesso.

Pessoas próximas à Paper Excellence disseram que, em uma reunião em agosto, em Los Angeles --da qual participaram tanto Widjaja quanto Ramos Filho--, a J&F exigiu um pagamento adicional de R$ 6 bilhões para concluir o negócio. Uma pessoa próxima à J&F diz que esse número foi inferido em uma discussão preliminar e informal sobre os termos de um possível novo contrato de venda solicitado por Widjaja.

De acordo com a J&F, o confronto não foi sobre o valor do negócio, mas sobre a incapacidade da Paper Excellence de liberar R$ 8 bilhões em garantias, incluindo ações da JBS, que os Batistas ofereceram para garantir empréstimos bancários à Eldorado. Essa foi uma precondição "crucial" para que a Paper Excellence assumisse o controle, disse a J&F em comunicado.

Segundo a Paper Excellence, a maioria dos credores --incluindo o BNDES-- recusou novas garantias para os empréstimos e disse que só liberaria garantias da J&F se mais de R$ 5 bilhões em dívidas fossem pagas antecipadamente pela Eldorado, segundo documentos judiciais. O BNDES não quis comentar.

Como alternativa, a Paper Excellence sugeriu injetar capital na Eldorado --ou emprestar o dinheiro através de pré-pagamentos de exportação-- para que a fabricante de celulose pudesse pagar seus credores e liberar as garantias. A J&F recusou, argumentando que isso significaria diluir a participação dos Batistas na produtora de celulose.

Também disse que a Paper Excellence assumiu total responsabilidade por liberar as garantias, e que mudar a estrutura acionária ou de capital da Eldorado não era algo que os Batistas deveriam ser forçados a fazer sob os termos do acordo assinado no ano passado.

Uma ação legal da Paper Excellence exigindo que a J&F aceite os termos foi indeferida por dois juízes brasileiros, que apoiaram os argumentos da J&F.

O litígio significa um novo obstáculo para a Paper Excellence em seus planos de expansão para o Brasil. Em março, a empresa perdeu uma disputa pela aquisição da gigante Fibria Celulose depois de não apresentar as garantias financeiras para a transação.

Os dois casos levantaram dúvidas sobre a capacidade da Paper Excellence de obter financiamento, dada a sua associação indireta com a Asia Pulp & Paper, uma empresa independente também pertencente à família Widjaja. Em 2001, a APP deu um calote sobre uma dívida de US$ 12 bilhões após um movimento de expansão na China.

Contudo, a Paper Excellence argumenta que tem mais de R$ 11 bilhões disponíveis para pagar as dívidas da Eldorado e comprar o controle dos Batistas. Extratos bancários foram apresentados como evidência. Apenas não lhe foi oferecida uma alternativa sobre como os pagamentos deveriam ser realizados, disseram pessoas próximas à empresa.

A J&F disse que continuará a lutar por seus direitos no tribunal, enquanto espera ter "o relacionamento mais respeitoso possível com seu parceiro" para o bem da Eldorado. A Paper Excellence "reforça que segue com os direitos preservados no contrato de compra do controle da Eldorado Brasil" e que "está otimista com um desfecho favorável na câmara de arbitragem".