Produtores dos EUA se afogam no leite que ninguém quer comprar
(Bloomberg) -- Há uma década, o iogurte grego estava em ascensão nos EUA. No estado de Nova York, fazendeiros e políticos tinham esperanças de poder tirar proveito disso.
Em 2005, Hamdi Ulukaya investiu menos de US$ 1 milhão para comprar uma antiga unidade de processamento de iogurte da Kraft em New Berlin, a 240 quilômetros a noroeste de Nova York. Em dois anos, Ulukaya, nascido na Turquia, já era um sucesso. Sua marca de iogurte Chobani estava nas geladeiras dos supermercados em todas as partes, deixando de lado marcas mais antigas e maiores e transformando o iogurte grego em elemento básico da dieta americana. Pesado, mas também saudável, o produto virou ingrediente de todo tipo de receita, de vitaminas batidas e muffins a picolés.
"O iogurte grego foi uma inovação muito grande do mercado de iogurtes", diz Caleb Bryant, analista sênior de bebidas da Mintel. O iogurte, durante décadas, tinha sido fluído e com grande quantidade de açúcar. "Foi então que a Chobani entrou em cena e mudou o conceito do que o iogurte pode ser." Com as vendas em ascensão, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, convocou a primeira Cúpula do Iogurte do estado, em 2012. Em 2013, depois que o estado se tornou o maior produtor de iogurte dos EUA, ele mudou a lei estadual para permitir que os produtores tivessem até 299 vacas, em vez de um máximo de 199, antes de ter que cumprir certas regulações ambientais.
A indústria de lácteos de Nova York se expandiu rapidamente. A produção de iogurte no estado atingiu o pico naquele ano, triplicando o nível de 2007.
Mas nos anos seguintes o iogurte grego começou a sofrer o mesmo destino que tem maltratado a indústria leiteira em geral -- a mudança dos gostos.
De abril de 2017 a abril de 2018, as vendas de produtos Chobani cresceram apenas 1 por cento e as vendas de todas as empresas do segmento caíram 2,2 por cento. O crescimento da Chobani vem, em grande parte, do Chobani Flip, um produto de iogurte misturável, e de bebidas à base de iogurte, segundo Bryant. (Embora a unidade da empresa em Nova York ainda produza uma quantidade significativamente maior de iogurte grego, ambos os produtos citados são feitos na unidade de Idaho.) Enquanto isso, os títulos da Chobani estão entre os de pior desempenho do setor de alimentos e bebidas como um todo.
Os produtores de leite de Nova York, que aproveitaram a oportunidade para expandir seus rebanhos há cinco anos, agora se perguntam se foi a decisão certa. "Disseram para nós que precisávamos expandir", diz Deb Windecker, produtora de leite e carne bovina na região de Mohawk Valley e antiga fornecedora da Chobani. "'Capital do iogurte, cresça, cresça, cresça'. E agora todos viraram as costas para nós."
Os produtores de lácteos dos EUA enfrentam uma lista crescente de desafios: as guerras comerciais do governo Trump coincidiram com um período prolongado de preços já baixos do leite. O dólar forte está reduzindo as exportações e a consolidação levou ao fechamento de fazendas em todo o país. E o mais ameaçador, o longo declínio do consumo americano de leite fluido, o produto lácteo que gera mais rendimentos aos produtores, não dá sinal de desaceleração.
Richard A. Ball, comissário do Departamento de Agricultura e Mercados de Nova York, disse que o estado está tentando resolver os problemas dos produtores de lácteos de Nova York. Entre as medidas, investimentos de mais de US$ 250 milhões na expansão da capacidade de processamento, pesquisas na Universidade Cornell sobre o desenvolvimento de uma bebida para recuperação baseada em leite para atletas, uso do leite para ajudar um programa contra a fome e um programa de marketing para mostrar aos consumidores que o leite é produzido localmente.
"Creio que não exploramos toda a participação de mercado que podemos", disse Ball.
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