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Ações brasileiras podem estar à beira de um rali massivo

Vinícius Andrade

27/10/2018 06h00

(Bloomberg) -- O otimismo que varre o mercado de ações do Brasil atingiu níveis impensáveis antes.

Os analistas estão prevendo ganhos massivos nos próximos 12 meses, após a provável vitória de Jair Bolsonaro no segundo turno presidencial deste fim de semana, dizendo que o capitão da reserva poderia enviar as ações a picos sem precedentes se buscar medidas agressivas para sustentar as finanças do governo. O parlamentar de direita e seu assessor econômico, Paulo Guedes, são vistos como uma bênção pelos investidores, que estão enamorados das promessas de ambos de conter os déficits orçamentários, remover as restrições à indústria agrícola e privatizar algumas empresas estatais.

Os estrategistas do UBS AG Sambuddha Ray e Alan Alanis são reflexos emblemáticos da euforia. Depois de meses de recomendações mornas para as ações brasileiras, eles agora estão dizendo aos investidores que o Ibovespa poderia subir mais de 40% nos próximos dois meses. E eles não estão sozinhos. Bradesco e Citigroup estão prevendo fortes ganhos, enquanto investidores da Schroders a NCH Capital dizem que estão aumentando sua exposição a ativos brasileiros.

"Estamos muito empolgados", disse Ray, em uma entrevista.

Há, porém, uma grande limitação para todas essas previsões de um 'boom'. Não apenas Bolsonaro precisa vencer o segundo turno - a consultoria política Eurasia Group aponta 85% de probabilidade de isso acontecer - mas ele também deve agir agressivamente sobre as mudanças no sistema previdenciário e outras reformas fiscais que os investidores dizem serem desesperadamente necessárias para sustentar o orçamento. Eles querem vê-lo ganhando apoio público, cortando acordos no indisciplinado Congresso brasileiro e transformando vagas promessas para reforçar a economia em propostas específicas.

"Parte do risco eleitoral foi removido e uma vitória de Bolsonaro é bastante provável", disse Evandro Buccini, economista-chefe da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos. A empresa, que pertence ao conglomerado chinês Fosun, tem R$ 12 bilhões sob administração. "Agora, o maior risco é a execução."

Os otimistas acham que têm um aliado em Paulo Guedes, conselheiro econômico de Bolsonaro. Economista formado pela Universidade de Chicago e fundador da empresa de capital privado Bozano Investimentos, ele é visto como o arquiteto da plataforma de negócios do candidato. Enquanto alguns analistas de câmbio expressaram dúvidas sobre a capacidade de Bolsonaro de fazer avançar as reformas, por ora os investidores do mercado de ações estão demonstrando confiança nas perspectivas.

O Ibovespa subiu 26% em dólar desde que as pesquisas começaram a mostrar um salto no apoio a Bolsonaro em meados de setembro. Foi o melhor desempenho entre os mais de 90 indicadores de ações monitorados mundialmente pela Bloomberg. O índice subiu 5% desde que Bolsonaro obteve o maior número de votos na votação do primeiro turno, em 7 de outubro, superando Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, em 17 pontos percentuais . Na primeira sessão após a votação, as ações brasileiras registraram uma entrada real de R$ 1,67 bi de investidores estrangeiros, segundo dados da bolsa.

A Schroders é uma das empresas estrangeiras que estão comprando ações brasileiras. "Aumentamos ligeiramente nossa exposição em ações brasileiras e continuamos positivos", disse Pablo Riveroll, um gestor de fundos de ações em mercados emergentes no escritório da empresa em Londres, que supervisiona US$ 247 milhões em ativos. Ele tem preferência por empresas estatais, construtoras, bancos, concessionárias e varejistas discricionárias entre as ações do país.

O Citigroup prevê que o Ibovespa saltará 25 por cento, para 104.000 pontos, em meados de 2019, na esteira do avanço das reformas.

O Banco Bradesco diz que o índice pode chegar a 120.000 pontos nos próximos 12 meses se o novo presidente seguir uma estratégia de aperto fiscal agressivo. Mesmo um ajuste parcial deve impulsionar o índice de ações na direção dos 100.000 pontos, diz o banco.

O nível de seis dígitos poderia facilmente ser quebrado nos próximos meses, de acordo com James Gulbrandsen, da NCH Capital, que tem US$ 3 bilhões em ativos sob gestão.

A visão do UBS passou de neutra para positiva em ações brasileiras após a forte votação de Bolsonaro no primeiro turno, com a justificativa de que a redução no risco político, combinada com valuations atrativos, poderia empurrar o Ibovespa para 119.000 pontos até o final do ano no cenário mais otimista. O cenário-base tem o Ibovespa em 100.000 pontos."Todo o otimismo está de volta", disse Ray.