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Sanções dos EUA não impedirão que Moody's eleve nota da Rússia

Anna Andrianova e Áine Quinn

29/10/2018 12h44

(Bloomberg) -- A Moody's Investors Service acredita que é provável que os EUA sancionem a dívida soberana da Rússia. Mas deve elevar a nota do país para o grau de investimento mesmo assim.

"Essas sanções provavelmente virão por causa do objetivo que o governo tem em mente: tentar prejudicar a Rússia", disse Kristin Lindow, analista da Moody's, em entrevista em Moscou. Ao mesmo tempo, os baixos requisitos de empréstimos da Rússia fazem com que o país esteja "resiliente", disse ela.

A Moody's, que coloca a Rússia um nível abaixo do grau de investimento, atualmente é a mais pessimista entre as três principais agências de classificação de risco, depois que a S&P Global Ratings elevou sua nota no início deste ano. Lindow e seus colegas colocaram o país em perspectiva positiva em janeiro, o que significa que eles têm que tomar uma decisão sobre uma possível elevação da nota antes da metade do próximo ano.

Esta é uma tarefa difícil, porque há muita incerteza em torno dos planos dos EUA de punir o Kremlin por sua suposta interferência nas eleições americanas. A proposta de proibir que os norte-americanos comprem novas dívidas soberanas russas parece estar conquistando adeptos em Washington depois de ter aparecido em pelo menos dois projetos de lei que têm apoio bilateral no Congresso.

Lindow diz que a Rússia pode lidar com essa medida porque não tem nenhuma necessidade urgente de pedir dinheiro emprestado. A dívida em circulação do país está entre as mais baixas dos mercados emergentes e deve gerar um superávit orçamentário em 2018 pela primeira vez em sete anos. Com isso, o Ministério das Finanças pôde evitar os leilões recentes de títulos em rublo quando sentiu que o preço estava alto demais.

Ainda assim, a elevação da nota não ajudaria muito a conter o êxodo de capital estrangeiro da Rússia, porque os investidores não estão confortáveis com a incerteza das sanções, escreveu Dmitry Dolgin, economista da ING Groep, em uma nota de pesquisa na semana passada. Os não-residentes venderam cerca de 500 bilhões de rublos (US$ 7,6 bilhões) em títulos do governo desde as sanções impostas pelos EUA em abril, segundo dados do banco central.

O upgrade da Rússia para o grau de investimento pode ser adiado se as punições de Washington forem mais severas, cobrindo o mercado de títulos secundários, ou se uma proposta para impedir que alguns dos maiores bancos do país façam transações em dólar se tornar lei, disse Lindow. Esta medida poderia ter graves repercussões nos mercados globais de commodities, porque a Rússia não poderia processar suas vendas de petróleo, disse ela.

O avanço da proposta das sanções foi adiado antes das eleições parlamentares, que serão realizadas no início do próximo mês, e sua gravidade pode depender até certo ponto de qual partido conquistar mais assentos. Lindow acredita que é provável que algum tipo de punição nova se torne lei, porque as sanções têm sido a ferramenta diplomática preferida por Washington em discussões recentes.

"Depois dos acontecimentos com a Arábia Saudita e, antes disso, com a Turquia, dá para perceber que o Congresso dos EUA está apaixonado pelas sanções", disse Lindow. "O Congresso passou a adorar usar essa ferramenta, independentemente de sua eficácia."

Repórteres da matéria original: Anna Andrianova em Moscou, aandrianova@bloomberg.net;Áine Quinn em Londres, aquinn38@bloomberg.net