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33 dias antes da posse de AMLO, investidores deixam o México

Eric Martin

30/10/2018 15h13

(Bloomberg) -- A lua de mel de Andrés Manuel López Obrador com os investidores acabou abruptamente 33 dias antes de ele assumir a presidência do México.

Sua decisão de cancelar um projeto de US$ 13 bilhões para construir um aeroporto quando tomar posse em dezembro, derrubou os mercados. O peso caiu 3,5 por cento e chegou ao patamar de 20 por dólar, o mercado de ações perdeu mais de US$ 17 bilhões em valor e o JPMorgan Chase & Co. reduziu sua projeção de crescimento econômico para 2019, afirmando que agora o banco central provavelmente terá que elevar as taxas de juros para desacelerar a fuga de capital.

Não é que os investidores adorassem o projeto do aeroporto, que estava longe de ser perfeito. O problema, porém, é que o fato de pedir que seja cancelado -- apenas um dia após um referendo não oficial indicar que a maioria dos mexicanos desaprovava o projeto -- enviou uma mensagem mais ampla aos investidores: os contratos existentes podem ser cancelados a qualquer momento. É a construção do aeroporto hoje e, talvez, contratos de petróleo amanhã e de mineração no dia seguinte. Para um grupo de investidores que sempre desconfiou de AMLO, como o esquerdista é conhecido, essa é uma mensagem desconcertante.

O referendo "envia uma grave mensagem de incerteza aos mercados internacionais, aos investidores e a todos os cidadãos mexicanos", disse Juan Pablo Castañón, presidente da câmara de comércio nacional (CCE), cujo aperto de mão com López Obrador, em julho, ajudou a acalmar os mercados, em entrevista coletiva na segunda-feira. "É uma violação dos compromissos do Estado mexicano e do marco legal atual."

Turbulência

Embora cancelar o aeroporto fosse uma das promessas de campanha de López Obrador, os ativos mexicanos avançaram após sua eleição quando ele se encontrou com empresários e prometeu uma transição ordenada. A calma foi destruída pela decisão de segunda-feira. A medida provocou a pior queda da moeda, das ações e dos títulos do país desde que a surpreendente eleição de Donald Trump em 2016 fez surgir o fantasma de o México ser forçado a pagar a construção de um muro na fronteira com os EUA e do fim do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). A Eurasia Group afirmou que o resultado mostra que a influência de assessores mais pró-mercado, como o chefe de gabinete, Alfonso Romo, que vinha sendo o principal representante do presidente eleito para cortejar investidores, será limitada.

López Obrador disse que a decisão sobre o projeto de infraestrutura mais importante em décadas foi tomada pelo povo mexicano, mas a votação -- organizada e administrada por seu partido Morena -- teve a participação de apenas 1,07 milhão de eleitores, em comparação com mais de 45 milhões na eleição presidencial de julho. Houve muitas acusações de votos múltiplos, com vídeos postados nas redes sociais que mostram pessoas, entre elas aparentes voluntários nos lugares de votação, votando várias vezes.

A decisão de López Obrador de cancelar o aeroporto faz lembrar o presidente Trump porque mostra o compromisso de cumprir promessas de campanha independentemente das consequências e dos protestos da opinião pública ou das empresas, disse Duncan Wood, diretor do Mexico Institute no Woodrow Wilson International Center for Scholars em Washington.

"Isso estabelece um precedente terrível sobre como ele vai governar e sobre o relacionamento com os mercados internacionais", disse Wood em relação ao referendo. "Se você realmente quer saber qual é a vontade do povo, tem que fazer isso de uma maneira totalmente legítima."