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IA identifica gasto pessoal justificado como jantar de trabalho

Olivia Carville

14/11/2018 14h57

(Bloomberg) -- Um funcionário que faria uma viagem a trabalho colocou seu cachorro em um canil e repassou o gasto como despesa de hotel. Outro pagou aulas de ioga com o cartão de crédito corporativo como se fossem entretenimento para o cliente. Um terceiro, depois de gastar uma pequena fortuna em um clube de striptease, apresentou a despesa como um jantar de negócios em uma churrascaria.

Essas despesas falsas, ocorridas recentemente em grandes empresas dos EUA, têm uma coisa em comum: todas foram expostas por algoritmos de inteligência artificial que podem detectar em segundos declarações fraudulentas e recibos falsos que muitas vezes são indetectáveis para os auditores humanos, mesmo após horas de um tedioso trabalho.

AppZen, uma startup de contabilidade com IA de 18 meses, já assinou contrato com várias empresas grandes, como Amazon, IBM, Salesforce e Comcast, e afirma ter economizado para seus clientes US$ 40 milhões em despesas fraudulentas. A AppZen e empresas tradicionais, como a Oversight Systems, afirmam que sua tecnologia não está eliminando empregos - até o momento -, mas sim liberando os auditores para que possam se aprofundar em reivindicações duvidosas e educar os funcionários sobre as políticas de viagens e despesas.

"As pessoas não têm tempo para analisar cada item das despesas", diz Anant Kale, CEO da AppZen. "Queríamos que a IA fizesse isso por elas e descobrisse coisas que poderiam passar desapercebidas pelo olho humano."

Empresas dos EUA, temendo danos à própria reputação, relutam em admitir publicamente quanto dinheiro perdem por ano com despesas fraudulentas. Mas, em um relatório divulgado em abril, a Associação de Examinadores Certificados de Fraudes afirma ter analisado 2.700 casos de fraude de janeiro de 2016 a outubro de 2017 que resultaram em prejuízos de US$ 7 bilhões.

A maior organização antifraude do mundo concluiu que o desvio de gastos e despesas de viagem equivale a cerca de 14 por cento das fraudes de funcionários. Ficou mais fácil enganar os departamentos financeiros graças a sites como fakereceipts.us, que facilitam a criação de registros de gastos falsos.

Durante anos, contadores forenses como Tiffany Couch, fundadora da Acuity Forensics, tiveram que investigar cada recibo, um por um. Em um caso, ela expôs US$ 1,4 milhão em recibos inventados; em outro, Couch expôs três executivos do setor de autopeças que tinham gastado milhares de dólares em uma extravagante viagem de fim de semana para o Canadá com suas esposas. Mas, apesar desses sucessos, ela diz que o advento da inteligência artificial era muito necessário. "O pior pesadelo de um auditor é analisar os pedidos de reembolso de despesas", diz ela.

A AppZen, que tem sede em San Jose, Califórnia, pode auditar todas as solicitações em tempo real analisando os recibos com um algoritmo que busca duplicidade, discrepâncias ou despesas inflacionadas. Ele reembolsa as despesas legítimas dos funcionários no mesmo dia e repassa a auditores humanos quaisquer pedidos duvidosos que exijam uma investigação mais detalhada. O algoritmo pode comparar o custo médio de um voo de Nova York a Chicago com o valor gasto e destacá-lo se o preço parecer exorbitante para aquele dia (ou se o funcionário tiver passado para a primeira classe). Também fará um alerta se uma empresa listada em algum recibo não existir ou se um clube de striptease tentar se fazer passar por uma churrascaria.