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Pergunta sobre cidadania em censo dos EUA é vista como imprópria

Bob Van Voris

14/11/2018 13h10

(Bloomberg) -- Em um distanciamento com a administração de Trump, o principal cientista do Escritório do Censo dos EUA declarou que há "evidências quantitativas confiáveis" de que a participação no censo de 2020 diminuirá se o governo incluir uma pergunta sobre cidadania.

"Você não acha que adicionar uma pergunta sobre cidadania ao censo de 2020 seja uma boa ideia, certo?" perguntou a John Abowd, na terça-feira, um advogado que representa um grupo de estados e cidades que processaram o governo em um tribunal federal em Manhattan para que a pergunta seja retirada.

"Certo", respondeu Abowd.

Os estados e cidades, liderados pela procuradora-geral de Nova York, Barbara Underwood, entraram com ação judicial em abril argumentando que o governo está usando a pergunta -- "Esta pessoa é um cidadão dos Estados Unidos?" -- para diminuir a taxa de participação e diluir o poder político dos imigrantes e das pessoas que não têm a cidadania.

A ideia é que, assustados com a retórica do presidente, eles podem se recusar a responder ao censo com medo de que os dados possam ser usados por agentes federais de imigração para atacá-los ou alguém da família, mesmo que estejam legalmente nos EUA. Os estados dizem que a adição da pergunta ao censo de 2020 não passou pelos testes rigorosos habituais.

Poder político

O governo afirma que a adição da pergunta é uma iniciativa séria para ajudar as minorias, melhorando a aplicação da histórica Lei do Direito de Voto de 1965. O governo argumenta que o Departamento de Comércio, que inclui o Escritório do Censo, tem plena autoridade para formular o censo e que a pregunta sobre a cidadania tornará a contagem mais precisa.

O julgamento pode ajudar a reescrever o mapa político dos EUA por uma década ou mais. Os resultados do censo são usados para distribuir assentos no Congresso e votos do Colégio Eleitoral e ajudam a direcionar bilhões de dólares em ajuda federal.

Na terça-feira, Abowd prestou depoimento sobre um memorando enviado por ele em janeiro ao secretário do Comércio, Wilbur Ross, no qual relatou a recomendação da equipe sobre três possíveis cursos de ação: não fazer nenhuma alteração, adicionar uma pergunta sobre cidadania ou usar registros não censitários para complementar os dados da pesquisa, sem fazer alterações no questionário.

A equipe do Censo recomendou não adicionar a pergunta, que tinha sido eliminada depois do censo de 1950, dizendo que ela implicaria "uma grande possibilidade de afetar a qualidade e os custos", incluindo pelo menos US$ 27,5 milhões adicionais para acompanhar as pessoas adicionais que provavelmente não responderiam ao questionário.

Mais fácil e barato

A opção do status quo era a mais barata e mais fácil e o uso de registros administrativos para complementar os dados adicionaria menos de US$ 2 milhões ao custo sem afetar a taxa de respostas, de acordo com o memorando.

No início do dia, Lisa Handley, testemunha da parte demandante especializada em direitos de voto das minorias e em reconfiguração de distritos, prestou depoimento. Handley, especialista em mais de 25 casos de direitos de voto, entre eles seis em nome do Departamento de Justiça, disse que os dados atualmente disponíveis do Escritório do Censo são "perfeitamente suficientes" para determinar se os direitos de voto estão sendo violados, sem necessidade de acrescentar a pergunta sobre a cidadania.

O juiz distrital dos EUA, Jesse M. Furman, nomeado por Barack Obama, preside o julgamento de duas semanas sem júri. Os dois lados devem terminar de apresentar suas provas nesta semana.