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Crise do cacau na Costa do Marfim afeta exportadores e bancos

Leanne de Bassompierre e Baudelaire Mieu

23/11/2018 14h58

(Bloomberg) -- Os exportadores locais do maior produtor de cacau do mundo estão perdendo participação no mercado para concorrentes com financiamento estrangeiro em um momento em que enfrentam as consequências da falência da Saf-Cacao.

Os exportadores de cacau na Costa do Marfim estão tendo dificuldades para financiar a compra e o armazenamento de grãos porque os bancos estão reduzindo sua exposição ao setor. Bombardeados por cerca de 150 bilhões de francos da Comunidade Financeira Africana (US$ 261 milhões) em dívidas não pagas da Saf-Cacao, que era um dos maiores exportadores de cacau antes que um tribunal ordenasse a liquidação da empresa em julho, os bancos limitaram seus empréstimos para minimizar o risco de acumular mais prejuízos.

Desde o começo da nova temporada, no mês passado, até 11 de novembro, exportadores estrangeiros como Cargill, Olam International e suas unidades locais representaram 72 por cento das remessas de cacau que chegaram aos dois principais portos em Abidjan e San Pedro, segundo documentos com dados do governo vistos pela Bloomberg. O número se compara com 62 por cento na temporada anterior, encerrada em setembro, mostram os documentos.

A situação "está deixando os traders locais sem acesso a dinheiro e os bancos com receio de financiar a próxima campanha", disse Vincent Le Guennou, diretor administrativo da Emerging Capital Partners, que tem participação majoritária no banco pan-africano Oragroup. "Isso já vem se arrastando há muito tempo."

Reviravolta

A especulação com os preços mudou as perspectivas da Saf-Cacao, que comprou o segundo maior volume de cacau da Costa do Marfim há dois anos. Depois que o cacau atingiu o valor mais alto em seis anos em julho de 2016, a empresa foi uma das várias exportadoras locais a apostar que o preço continuaria subindo e acabou sendo pega de surpresa. A companhia deu calote em 15.000 toneladas de cacau para a temporada anual encerrada em setembro do ano passado, de acordo com auditoria do setor realizada pela KPMG.

A auditoria mostrou que 32 exportadores deram calote em 222.302 toneladas de cacau, mais de um décimo da safra recorde de cerca de 2,1 milhões de toneladas colhida na mesma temporada. Exportadores de menor porte, que na época eram representados por associações do setor conhecidas como Pmex e Coopex, representaram 68 por cento dos contratos não cumpridos.

Na semana passada, um dos maiores grupos representantes dos exportadores locais se reuniu com a Associação Profissional de Bancos e Instituições Financeiras para pedir mais fundos que serão vitais para evitar uma nova onda de calotes de contratos, segundo duas pessoas a par do assunto. As negociações estão em andamento, embora os bancos tenham pouca disposição para aumentar o financiamento enquanto a liquidação da Saf-Cacao não for concluída, disseram as pessoas, que pediram não serem identificadas porque as informações não são públicas.

"Não há nada a fazer, a menos que o governo trabalhe com um possível comprador" para a Saf-Cacao, disse Laureen Kouassi-Olsson, diretora regional para África Ocidental e Central da Amethis Finance, uma empresa de private equity. "Os bancos não terão outra opção além de amortizar parte da dívida."

Repórteres da matéria original: Leanne de Bassompierre em Abidjan, ldebassompie@bloomberg.net;Baudelaire Mieu em Abidjan, bmieu@bloomberg.net