Funcionários do Google pedem fim de projeto chinês em carta
(Bloomberg) -- Um grupo de funcionários do Google assinou uma carta aberta pedindo que a empresa abandone o plano de lançar um sistema de pesquisa on-line na China que censura resultados.
O Dragonfly Project, como a iniciativa é conhecida, permitiria vigilância do Estado em um momento em que o governo chinês está expandindo os controles sobre a população, segundo a carta assinada por pelo menos 10 funcionários, entre os quais predominam engenheiros de software e pesquisadores. O documento pediu também que a direção da empresa se comprometa a agir com transparência, assumir responsabilidades e se comunicar com clareza.
Desde que os planos do Dragonfly vieram à tona, em agosto, a empresa controladora do Google, Alphabet, é alvo de dissidência interna devido à possibilidade de que o sistema de pesquisa se curve à censura de Pequim. Foi esse tipo de controle governamental que levou os cofundadores Larry Page e Sergey Brin a efetivamente abandonarem a China em 2010, quando decidiram deixar de remover links controversos das consultas na internet.
"Nós nos recusamos a construir tecnologias que ajudem os poderosos a oprimir os vulneráveis, onde quer que estejam", escreveram os funcionários do Google na carta. "O Dragonfly estabeleceria na China um precedente perigoso, e com ele seria mais difícil para o Google negar concessões desse tipo em outros países."
Um porta-voz do Google preferiu não fazer comentários sobre a carta e disse que o projeto de pesquisa na China só foi "exploratório".
Esse não é o único problema sobre o qual os funcionários do Google se manifestaram. No início deste mês, milhares de trabalhadores saíram do escritório para protestar contra o tratamento concedido pela empresa às queixas de assédio sexual e agressão. No início deste ano, outra petição ajudou a pressionar a empresa a cancelar um contrato militar. A carta mais recente é diferente, porque os funcionários estão adicionando seus nomes verdadeiros, sendo que dissidentes anteriores permaneceram, em sua maioria, anônimos.
O retorno à China é um dos principais objetivos do CEO do Google, Sundar Pichai. Em 2016, uma pequena equipe, que incluía Pichai, começou a trabalhar em projetos relacionados à China, inclusive no Dragonfly, para levar o sistema de pesquisa do Google de volta ao país.
A decisão foi recebida com resistência por engenheiros e executivos do Google. O presidente do conselho da Alphabet, John Hennessy, disse não ter certeza de que o Google ganhará mais oferecendo um sistema de pesquisa censurado.
Os signatários da carta disseram que entraram na empresa levando em consideração sua posição anterior em relação à censura chinesa e a disposição do Google de colocar "os valores acima dos lucros".
--Com a colaboração de Gerrit De Vynck.
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