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Presidente mexicano tem desafios rumo à independência energética

Amy Stillman

06/12/2018 16h03

(Bloomberg) -- No calor tropical da região sudeste do México, escavadeiras preparam o terreno de uma nova e enorme refinaria na periferia de Paraíso, uma empobrecida cidade petrolífera que nunca fez jus ao nome.

A refinaria Dos Bocas é o principal projeto do novo governo no setor de energia, um empreendimento de 160 bilhões de pesos (US$ 7,8 bilhões) que promete gerar empregos, baixar os preços da gasolina e alavancar o decadente setor de refino do país.

Este é apenas o começo, segundo o presidente recém-empossado Andrés Manuel López Obrador -- apelidado de AMLO. Ele prometeu reabilitar o setor de energia do México, em parte abandonando as reformas de seu antecessor, que liberalizaram o mercado, em favor de políticas protecionistas que remontam à década de 1980.

"As políticas econômicas neoliberais foram um desastre", disse López Obrador na posse, criticando as reformas do setor de energia arquitetadas pelo ex-presidente Enrique Peña Nieto.

Esse discurso conquistou o coração dos eleitores, mas gerou dúvidas nos investidores. Os críticos dizem que os planos do presidente -- entre eles o encerramento gradual das exportações de petróleo e a suspensão dos leilões de petróleo para empresas estrangeiras -- reverterão os ganhos duramente conquistados pela abertura realizada pelo governo anterior no setor de energia, que atraiu as maiores petroleiras do mundo para o México.

Possíveis armadilhas

Boa parte das propostas de López Obrador pode efetivamente interromper o comércio de petróleo do México, o que prejudicaria em especial a estatal Petróleos Mexicanos.

"O nacionalismo pode parecer ótimo no papel, mas a Pemex tem uma dívida de US$ 106 bilhões, boa parte dela denominada em dólares e implicitamente garantida pela exportação de petróleo", disse John Padilla, diretor-gerente da consultoria de energia IPD Latin America.

A tarefa de colocar a casa em ordem na Pemex seria árdua para qualquer presidente. A empresa caminha para o 14º ano consecutivo de queda na produção de petróleo. Seus dutos são sempre alvo de ladrões, que desviam bilhões de dólares em combustível todos os anos. Enquanto isso, as seis refinarias da empresa operam nos níveis mais baixos em três décadas e estão em situação tão ruim que quando processam mais petróleo bruto, são deficitárias.

A tese de que López Obrador poderia transformar o México, tornando o país autossuficiente na produção de combustível durante seus seis anos de mandato, é difícil de acreditar, disse Robert Campbell, chefe de pesquisa de produtos petrolíferos da Energy Aspects em Nova York. A tarefa exigiria "um investimento colossal" no setor de refino, que até o momento atraiu apenas um punhado de negócios.

A promessa do presidente de baixar os preços da gasolina também seria difícil de cumprir.

"O México depende dos mercados internacionais de combustíveis, então a única forma de os preços nas bombas serem mais baixos é se o valor do petróleo cair, se o peso se valorizar significativamente ou se o governo subsidiar o custo do combustível", disse Campbell. "O governo pode optar por fazer a Pemex absorver os prejuízos nas importações de combustível, mas isso apenas pioraria a situação financeira da empresa, que está se deteriorando devido à queda na produção de petróleo do México."