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Primeira prefeita de Amsterdã analisa bordéis da cidade

Ellen Proper e Joost Akkermans

11/12/2018 12h54

(Bloomberg) -- A primeira prefeita de Amsterdã está repensando seu centenário distrito da luz vermelha.

O distrito de Wallen fica na parte mais antiga da cidade e, na época de sua criação, no século 14, era o lugar onde mulheres livres, em sua maioria holandesas, atendiam marinheiros e comerciantes. Agora, com mais de 370 vitrines que exibem mulheres escassamente vestidas e zombadas por turistas bêbados e ávidos por tirar uma foto, que as desumanizam, a região, uma das maiores atrações turísticas da cidade, não combina mais com uma cidade moderna, diz Femke Halsema.

"Muitas vezes agora vemos mulheres estrangeiras e vulneráveis nas vitrines sendo vaiadas por hordas de turistas bêbados", disse a prefeita de 52 anos, que está há cinco meses no cargo, em uma entrevista em seu gabinete, no prédio da prefeitura, com vista para o rio Amstel. "Nossa cidade é uma das mais antigas da Europa, com uma enorme importância histórica cultural, que está se deteriorando. Gostaríamos que os turistas vissem o valor cultural."

A prefeitura pretende conservar a prostituição às claras e a salvo, mas a análise do distrito é parte de uma iniciativa mais ampla para espalhar visitantes por toda a cidade, e os donos dos bordéis com vitrines estão cada vez mais dispostos a considerá-la. A cidade de cerca de 850.000 habitantes atraiu 18 milhões de turistas em 2016 - o mais recente número disponível - e Halsema diz que redefinir o distrito da luz vermelha vai descongestionar a cidade do canal e revigorar a zona histórica da capital holandesa.

Moradores

Administrar os fluxos de turistas é apenas uma das questões enfrentadas por Halsema, que se debruça também sobre o influxo de pessoas provocado pelas mudanças causadas pelo Brexit em Londres e com a acessibilidade da moradia em Amsterdã em meio ao aumento de preço dos imóveis.

Os moradores expressaram preocupação com o aumento do número de visitantes, apontando para a necessidade de manter a cidade habitável. Os habitantes de Amsterdã contaram com o apoio da prefeita para acabar com os planos de um píer que teria permitido que barcos comerciais atracassem em um canal a poucos metros da famosa casa de Anne Frank.

"Para a prefeitura, é de grande importância que Amsterdã seja um lugar onde as pessoas moram", disse a prefeita. "Este não é um ponto turístico congelado onde a vida se torna difícil. Precisamos pensar sobre que tipo de turistas queremos atrair, já que não devemos ter a ilusão de que o número de turistas na cidade irá diminuir. Vai continuar aumentando."

Refugiados do Brexit

O outro influxo para o qual Halsema se prepara é o das pessoas que fogem do Brexit. Um primeiro grupo de cerca de 60 funcionários da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) já está trabalhando em Amsterdã depois que o órgão regulador decidiu se mudar de Londres. Outras centenas são esperadas. A prefeitura também trabalha para atrair empresas da nova economia.

Tudo isso significará uma demanda crescente por moradias em uma cidade que já enfrenta uma grave escassez habitacional. Embora Amsterdã planeje construir 52.500 casas para famílias de baixa e média renda até 2025, a questão continuará sendo um dos maiores desafios para a prefeita.

"Parte da cidade está se tornando muito rica, e os preços da moradia estão se tornando muito caros como consequência", disse a prefeita, ex-líder do Partido Verde no parlamento. Ela receia que as opções habitacionais estejam diminuindo para pessoas comuns, como professores, enfermeiros, policiais e expatriados com renda modesta.

Repórteres da matéria original: Ellen Proper em Amsterdã, eproper@bloomberg.net;Joost Akkermans em Amsterdã, jakkermans@bloomberg.net