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App de revistas da Apple irrita indústria editorial, dizem fontes

Gerry Smith

12/12/2018 14h56

(Bloomberg) -- Quando a Apple lançou o iPad, há oito anos, os executivos da imprensa adoraram.

"Sente-se uma vez por dia e reze para agradecer a Steve Jobs por estar salvando a indústria editorial", disse o diretor da editora alemã Axel Springer sobre o tablet em 2010.

Mas a ideia de folhear uma revista em um iPad nunca se popularizou. Jornais e revistas continuaram em dificuldades. O número de assinaturas de muitas publicações diminuiu e a receita com anúncios passou para empresas como Google e Facebook.

Nesse contexto, a Apple está de volta com mais uma ideia que, segundo a empresa, ajudará a resgatar o setor - mas a recepção está sendo muito mais fria.

A gigante da tecnologia se prepara para relançar Texture, um aplicativo que a companhia decidiu comprar em março e oferece acesso ilimitado a cerca de 200 revistas. A empresa planeja transformá-lo em um produto premium dentro do Apple News, que seleciona matérias e vem pré-instalado no iPhone, de acordo com pessoas a par do assunto. Uma nova versão poderia ser apresentada já no segundo trimestre do próximo ano, disseram as pessoas, que pediram anonimato porque os planos não foram divulgados.

A Apple está tentando convencer jornais como o Wall Street Journal e o New York Times a participar do Texture e planeja aprimorar o design do aplicativo, que atualmente cria uma imagem da edição impressa das revistas, disseram as pessoas. Projeta-se que a nova abordagem tenha um aspecto mais parecido com o de matérias de jornais on-line. A Apple, com sede em Cupertino, Califórnia, preferiu não comentar.

Preço único

No entanto, alguns executivos receiam que o Texture possa acabar fazendo mais mal do que bem. Eles receiam que a Apple roube seus assinantes atuais, que economizariam dinheiro lendo matérias no Texture. Com um preço de US$9,99 por mês, Texture seria mais barato que uma assinatura digital ilimitada do New York Times - após a expiração dos preços introdutórios.

Projeta-se que as vendas de anúncios em revistas cairão mais de 10 por cento em 2018, segundo a Magna. As dificuldades desencadearam uma onda de transações. A Meredith adquiriu a Time neste ano, mas depois colocou à venda as revistas mais famosas da empresa. A companhia concordou em vender a Fortune ao empresário tailandês Chatchaval Jiaravanon por US$ 150 milhões, e o fundador da Salesforce, Marc Benioff, comprou a revista Time por US$ 190 milhões.

Nos últimos meses, a Apple se reuniu com executivos do setor de imprensa para abordar o receio de que um novo Texture possa roubar assinantes. Uma equipe dirigida por Eddy Cue e pela ex-executiva da Condé Nast Liz Schimel argumentou que o crescimento do número de assinantes do Texture poderia gerar receita suficiente para superar o que as organizações de imprensa obtêm com suas próprias divisões de assinatura, disse uma pessoa.

Joey Levin, CEO da empresa de mídia on-line IAC, disse que as editoras poderiam se beneficiar com um modelo no estilo Netflix ou Spotify ao acumular leitores e suas informações sobre pagamentos em um único lugar. Mas as editoras preferem ter relacionamentos diretos com os leitores, disse ele, em vez de depender de uma plataforma de tecnologia.

"No longo prazo, a plataforma se torna todo-poderosa", disse Levin, cuja empresa é dona do site The Daily Beast. "E ninguém monetizou isso de forma significativa."

--Com a colaboração de Mark Gurman.