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Coletes Amarelos franceses começam a gostar da vida radical

Gregory Viscusi

13/12/2018 15h03

(Bloomberg) -- Na manhã seguinte ao momento em que Emmanuel Macron abandonou toda a sua estratégia orçamentária para aplacar os manifestantes que têm abalado a França nos últimos 30 dias, cerca de 20 "Coletes Amarelos" se reuniram em seu ponto de encontro habitual, uma rotatória perto de uma cidadezinha na Borgonha.

Eles não estavam de acordo em relação ao que esperavam conseguir, mas estavam lá mesmo assim, com os coletes extremamente chamativos que se tornaram símbolo de sua oposição.

"Ainda estaremos aqui em 14 de julho de próximo ano", disse Jean-Marc Foyard, 63, um trabalhador ferroviário aposentado, sorrindo ao fazer alusão ao aniversário da tomada da Bastilha.

O que começou como uma típica revolta contra impostos se transformou em algo muito mais perigoso para o presidente da França: um movimento cultural.

A vitória eleitoral de Macron em 2017 pode ter maquiado as divergências em um país onde quase 50 por cento da população apoiou extremistas de uma estirpe ou outra na eleição presidencial.

Mas após 19 meses de audaciosas iniciativas europeias e reformas econômicas, pessoas de toda a França estão tirando coletes amarelos do porta-malas do carro para expressar todo tipo de queixas. A única coisa que eles têm em comum é o desprezo pelo ex-assessor de fusões e aquisições de 40 anos que está no Palácio do Eliseu.

"Ele é um banqueiro jovem e arrogante que acha que sabe tudo", disse Foyard.

Mea culpa

Macron tentou neutralizar os protestos com um mea culpa televisado na noite de segunda-feira, em que prometeu elevar o salário mínimo, eliminar um imposto sobre aposentadorias inferiores a 2.000 euros por mês e acabar com encargos sociais por horas extras. Ele cedeu à exigência original dos Coletes Amarelos e voltou atrás em relação aos aumentos de preço da gasolina que tinham sido aprovados na semana anterior.

Mas Lionel Goyer, um trabalhador agrícola de 46 anos, voltou a sair no dia seguinte e estava protestando junto com Foyard em Villeneuve-la-Guyard, que fica a cerca de uma hora de carro ao sudeste de Paris. O plano de ação de Macron não aplacou a angústia coletiva que está varrendo o país, disse ele.

"Conversamos sobre o que Macron propôs e ficou logo claro que nenhum de nós foi afetado", disse ele. Todo o grupo ganha mais que o salário mínimo ou tem aposentadorias que superam a faixa isenta de impostos.

Fenômeno

Os protestos em Paris podem ter se tornado violentos às vezes, mas o fenômeno dos Coletes Amarelos está se transformando em uma espécie de evento social, pelo menos em Villeneuve. O número de pessoas na rotatória chega a cerca de 100 nos fins de semana, e muitas outras param para bater papo ou levar comida e café.

"Para muitos membros dos Coletes Amarelos, esta é sua primeira experiência política, por isso eles têm dificuldades para especificar seus objetivos", disse Sylvain Boulouque, historiador que escreveu livros sobre movimentos populares. "Lado a lado, alguns fazem exigências financeiras específicas enquanto outros têm exigências mais gerais de classe ou nacionalistas."

Ninguém na rotatória deu uma ideia clara do que teria que acontecer para que o movimento se dissipe.

Mas houve um pequeno consolo para o presidente em apuros: eles também não querem que ele peça demissão. Receiam quem viria a seguir.

--Com a colaboração de John Harney.