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Redes de restaurantes dos EUA tiveram ano ruim; 2019 parece pior

Leslie Patton

28/12/2018 15h41

(Bloomberg) -- A situação não ficará muito mais fácil para o setor de restaurantes dos EUA.

Depois de enfrentar a estagnação das vendas e um tráfego de clientes fraco em 2018, os restaurantes dos EUA encontrarão mais ventos contrários no próximo ano, como o aumento dos custos de alimentos e salários, que poderiam abalar o lucro e atrapalhar os esforços para impulsionar o crescimento.

Até mesmo os líderes do setor estão enfrentando esses problemas em um campo extremamente competitivo e cada vez mais cheio. A Starbucks está fechando algumas cafeterias nos EUA por receio de ter passado do ponto de saturação. O McDonald's, a maior empresa de restaurantes do mundo, vem aprimorando sua oferta de valor para se manter relevante nas guerras de preços e expandindo a entrega com Uber Eats para estimular as vendas.

Nem foi tudo tenebroso neste ano. Em meio à crise no mercado de ações, os restaurantes se saíram melhor do que o mercado em geral, sustentados por alguns destaques como Domino's Pizza e Chipotle Mexican Grill.

A Chipotle, embora longe de voltar a ser a queridinha de Wall Street, está começando a se recuperar depois que uma série de problemas de segurança alimentar prejudicou a marca.

A seguir, um panorama sobre as questões - obstáculos e oportunidades - enfrentadas pelo setor gastronômico em 2019.

Entrega e embalagem

Os americanos estão exigindo a entrega em domicílio, o que obriga as grandes redes a entrarem no jogo. Isso pode implicar investimentos caros em tecnologia. A receita obtida com pedidos feitos através de terceiros costuma ser compartilhada, por isso é mais difícil obter lucro com clientes digitais. Isso também significa que a entrega não necessariamente faz sentido para itens de baixo custo.

Desafios à parte, para as redes de restaurantes fica difícil ignorar um serviço exigido por um número cada vez maior de clientes. A Starbucks experimentou a entrega neste ano na Flórida com a Uber Eats e agora está expandindo o serviço para quase um quarto de suas cafeterias nos EUA. A entrega é atraente para as empresas porque os clientes costumam gastar mais nos pedidos para levar (a Applebee's e a IHOP afirmam que a conta média é "significativamente" maior). E não se trata apenas da hora do jantar: a rede de café da manhã Cracker Barrel Old Country Store está acrescentando mais furgões à sua frota de veículos de entrega para expandir o serviço.

À medida que mais pedidos migram para a internet, os restaurantes passaram a aprimorar as embalagens de transporte dos alimentos, para que as batatas fritas não cheguem murchas na porta dos clientes. A IHOP modificou a embalagem de suas panquecas, incluindo uma ventilação lateral que retém o calor (mas não a umidade) e suportes que evitam que os alimentos deslizem durante o transporte. A panqueca permanece fresca por 45 minutos, segundo a empresa controladora Dine Brands Global.

A Shake Shack também está experimentando algumas embalagens novas para viagem.

"Hambúrgueres, batatas fritas e milk-shakes não foram feitos para serem consumidos meia hora depois de preparados", disse a diretora financeira Tara Comonte.

Dados dos clientes

A entrega, especialmente quando realizada por terceiros como Uber Eats e GrubHub, está criando um imenso registro de dados de lanchonetes. Essa informação valiosa tornou-se uma fonte de tensão entre os restaurantes e as empresas de entrega sobre a quem pertencem essas informações. Uma solução para contornar isso: adquirir uma participação na companhia, como fez a Yum! Brands, dona da Pizza Hut, no início deste ano com um investimento na GrubHub.

"Estamos no estágio inicial da mineração dos dados de clientes que estamos recebendo", disse o CEO da Yum!, Greg Creed.

Uma quantidade maior de dados significa que as redes podem criar meticulosamente os anúncios para reconquistar os clientes, e as maiores empresas, como o McDonald's, provavelmente terão o maior poder de negociação para obter acesso aos dados. Essas informações também podem servir para a elaboração de cardápios melhores, já que os restaurantes adaptam sua oferta de acordo com "mudanças em tempo real nos padrões alimentares", disse David Palmer, analista da RBC Capital Markets.

Inflação dos alimentos

As guerras de preços podem começar a incomodar em 2019. Depois de lucrar com ingredientes baratos, que ajudaram os restaurantes a anunciar descontos e uma série de ofertas por US$ 1, pode haver um aumento da inflação de alimentos em 2019. Carne, frango e queijo poderiam ficar mais caros, de acordo com Bob Derrington, analista da Telsey Advisory Group. No próximo ano, os custos médios dos alimentos poderiam subir cerca de 5,4 por cento, estimou ele.

A Darden Restaurants, proprietária da rede Olive Garden, observou recentemente que os custos de alimentos vão "subir" em 2019. A empresa é uma grande compradora e vendedora de carne bovina e outras proteínas com suas redes LongHorn Steakhouse e Capital Grille.

Inflação da mão de obra

Com a baixa taxa de desemprego, os salários mais altos pesarão sobre as margens de lucro, de acordo com David Tarantino, analista da Robert W. Baird que citou os aumentos do salário mínimo e os investimentos em outros benefícios para os funcionários como fatores que aumentam a pressão. Aqueles com uma grande concentração de pontos pertencentes à companhia serão os mais duramente atingidos: Darden, Chipotle e Starbucks.

Alguns estão desembolsando grandes bônus para atrair trabalhadores, e a Taco Bell está dando festas com tacos gratuitos e brindes para atrair possíveis contratados. Empresas como a Dunkin' Brands Group e a Applebee's anunciaram que vão manter os custos de mão de obra sob controle facilitando as coisas para os funcionários da cozinha. A mão de obra é o "desafio número um" para os franqueados, disse o CEO da Dunkin' Brands, David Hoffmann, em outubro.

Devolução de impostos

Os clientes de fast food tendem a prestar atenção nos preços e ir às redes em busca de refeições baratas. Forças econômicas como o aumento de preço da gasolina ou o barateamento de mantimentos podem reduzir o tráfego do setor. E quando os americanos têm mais dinheiro no bolso, eles comem fora com mais frequência. Isso é bom para McDonald's, Taco Bell, Starbucks e o restante do setor.

Embora as empresas tenham se beneficiado da redução de impostos defendida pelo presidente dos EUA, Donald Trump, em 2019 as vantagens devem começar a atingir os consumidores e, em especial, os consumidores de baixa renda, segundo a Wells Fargo. Isso poderia dar um impulso a redes como Jack in the Box, à medida que as famílias que ganham menos de US$ 75.000 por ano obtiverem devoluções de impostos maiores.

--Com a colaboração de Jonathan Roeder.