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Paralisação do governo dos EUA é ruim, mas pode ficar muito pior

Christopher Flavelle, Jennifer A. Dlouhy e Ryan Beene

15/01/2019 11h35

(Bloomberg) -- Agentes de segurança dos aeroportos poderiam pedir demissão em massa, o que deixaria os voos em solo. Tribunais federais poderiam parar de ouvir casos civis. Ônibus municipais poderiam parar de circular. E 38 milhões de americanos poderiam deixar de receber cupons de alimentos.

Autoridades de Washington a Wall Street estão ponderando cenários dantescos se a paralisação parcial do governo dos EUA, que já é a mais longa da história, se estender até o segundo trimestre --ou além.

Os processos judiciais já estão colocando à prova a capacidade do governo de manter no emprego trabalhadores sem remuneração, dos quais centenas de milhares não receberam seu primeiro salário na semana passada.

Esforços de republicanos como o senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, de fechar um acordo sobre imigração para resolver o impasse fracassaram, e Trump rejeitou na segunda-feira (14) sua mais recente proposta. Um funcionário do governo disse que a Casa Branca está planejando estrategicamente para que a paralisação dure pelo menos até o final de fevereiro.

Além dos efeitos diretos sobre as empresas, segundo os economistas, a paralisação poderia abalar a confiança do consumidor e afetar as vendas no varejo, particularmente à medida que os trabalhadores contratados e funcionários federais não remunerados abrirem mão de gastos com carros, casas novas e até mesmo entretenimento.

Na verdade, três quartos do governo foram financiados por apropriações promulgadas antes do início do impasse. Departamentos como Defesa, Trabalho e Saúde e Serviços Humanos continuam em atividade. Outros, como o Serviço Postal dos EUA e o Federal Reserve dos EUA, têm fluxos de financiamento separados do que o Congresso fornece.

Mas a paralisação de mais de uma dúzia de departamentos e agências --da Segurança Interna à Agência de Proteção Ambiental-- está repercutindo em todo o país, ameaçando a economia, a segurança pública, as empresas e o bolso das pessoas.

E isso só vai piorar.

Rede de segurança

O Departamento de Agricultura dos EUA afirmou que pode não haver dinheiro suficiente para conceder cupons de alimentos para 38 milhões de beneficiários em fevereiro.

Esse gasto representa cerca de 10% dos alimentos que as famílias americanas compram para o lar, sendo que essas compras são feitas em cerca de 260 mil varejistas, segundo o Centro de Prioridades de Orçamento e Políticas.

Joe Brusuelas, economista-chefe da empresa de consultoria financeira RSM US, estima que a perda do financiamento dos cupons de alimentos por si só poderia subtrair pelo menos 0,53% do PIB.

Uma paralisação prolongada também testará os limites de quanto tempo os funcionários e contratados do governo continuarão trabalhando sem remuneração --um problema para aqueles designados como "essenciais" e informados de que devem permanecer no trabalho apesar da suspensão dos pagamentos.

Embora a maioria dos trabalhadores tenha cumprido a ordem até o momento, uma paralisação prolongada, combinada com empregadores ansiosos por contratar no disputado mercado de trabalho, poderia representar um desafio tanto para a lealdade quanto para as economias deles.

"É neste momento que as pessoas começarão a procurar outras opções", disse Steve Lenkart, diretor executivo da Federação Nacional dos Funcionários Federais, com 110.000 membros. "O aluguel vai vencer, e muitos desses funcionários federais não têm dinheiro economizado."

(Com a colaboração de Deena Shanker, Chibuike Oguh, Shobhana Chandra, Anna Edney, Bailey Lipschultz, Jeff Kearns, Elizabeth Fournier, Paul Murphy, Emily Chasan, Josh Eidelson, Matthew Townsend, Alan Levin e Todd Shields)