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Airbus critica processo do Brexit e ameaça deixar Reino Unido

Benjamin D. Katz e Joe Mayes

24/01/2019 12h45

(Bloomberg) -- A Airbus afirmou que pode ser obrigada a transferir futuros investimentos para fora do Reino Unido em caso de divórcio sem acordo da União Europeia, criticando a "loucura" dos defensores do Brexit, que supõem que a fabricante de aviões não abandonará o Reino Unido.

"Se houver um Brexit sem acordo, nós da Airbus teremos que tomar decisões que podem ser bastante prejudiciais para o Reino Unido", disse o CEO da empresa, Tom Enders, um dos líderes empresariais mais abertamente críticos em relação ao assunto. "Por favor, não ouçam a loucura dos partidários do Brexit que afirmam que, como temos grandes fábricas aqui, não nos mudaremos e estaremos sempre aqui. Eles estão errados."

O comentário, feito em uma incomum mensagem de vídeo compartilhada pela empresa na quinta-feira, é o mais duro, desde o referendo de 2016, deste executivo que fez diversos alertas sobre as consequências do pior cenário do Brexit. Isso aumenta a pressão sobre a primeira-ministra britânica, Theresa May, alvo do fogo cruzado dos membros pró-UE do Partido Conservador, seu partido, que tentam obrigá-la a adiar o prazo de 29 de março para o fim do Brexit, e dos eurocéticos convictos, que ameaçam derrubar seu governo se ela o fizer.

A Airbus, que tem sede em Toulouse, na França, emprega diretamente 14.000 pessoas no Reino Unido e apoia outras 110.000, disse Enders no vídeo publicado na quinta-feira. A empresa conta com unidades de produção em Filton, no sudoeste da Inglaterra, e no País de Gales, onde fabrica asas para sua linha de aeronaves comerciais.

O tempo para se chegar a uma decisão a respeito do Brexit está se esgotando. Se o Reino Unido não conseguir fechar acordo nas próximas nove semanas, deixará a UE em uma separação desordenada que, alertam as autoridades britânicas, pode gerar recessão e impactar a libra em até 25 por cento. Na semana que vem, o Parlamento deverá votar uma série de opções para os próximos passos do Brexit, incluindo uma proposta para obrigar o governo a pedir a prorrogação do prazo à UE.

Figuras importantes dos governos da França e da Alemanha afirmaram que poderiam concordar com um pedido desse tipo, o que sinaliza um baixo risco de Brexit sem acordo.

"É uma vergonha que mais de dois anos após o resultado do referendo de 2016 as empresas ainda não possam se planejar adequadamente para o futuro", disse Enders. "Se há realmente certeza de que o Brexit é o melhor para o Reino Unido, vá e entregue um acordo de divórcio pragmático."

Enquanto o Parlamento dividido se mostra incapaz de concordar com algum modelo para o Brexit, muitas empresas financeiras estão transferindo dinheiro para fora da City de Londres, o distrito financeiro do país, em uma mudança que pode ser irreversível. Cinco dos maiores bancos que buscam atender clientes da Europa continental pretendem transferir 750 bilhões de euros (US$ 854 bilhões) em ativos para Frankfurt.

Repórteres da matéria original: Benjamin D. Katz em London, bkatz38@bloomberg.net;Joe Mayes em Londres, jmayes9@bloomberg.net