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Camareira processa Marriott após sofrer assédio de hóspede

Rebecca Greenfield

29/01/2019 12h58

(Bloomberg) -- Leticia Vallejo, camareira de um hotel da rede Marriott em Irvine, na Califórnia, relatou que, no terceiro trimestre de 2017, um hóspede embriagado tocou seu corpo enquanto ela limpava o banheiro do saguão e lhe ofereceu US$ 50.

Vallejo, hoje com 51 anos, disse em entrevista que a pessoa responsável pela supervisão riu dela quando contou o ocorrido, brincando que o hóspede "deveria ter oferecido US$ 100".

Aquele não foi o primeiro nem o último incidente em algum banheiro do hotel, segundo Vallejo, que trabalha naquela unidade há 18 anos. De acordo com ela, é comum homens urinarem na frente dela ou fazerem cantadas e comentários inadequados. É algo que funcionárias de limpeza enfrentam com regularidade, segundo Vallejo.

O quadro que ela descreveu na entrevista também foi apresentado no processo que ela iniciou na segunda-feira no Tribunal Superior da Califórnia. Vallejo alega que seus supervisores no Marriott de Irvine não fizeram o bastante para protegê-la da má conduta dos hóspedes, criando um ambiente de trabalho hostil. Diversas vezes, ela solicitou uma placa que impedisse a entrada de pessoas enquanto limpava. O uso da placa foi considerado "antiquado".

Eventualmente, Vallejo recebeu uma pequena placa que não barrava a entrada do banheiro. Quanto ao episódio de violência, ela afirma que não houve qualquer resposta da administração. "Eles não investigaram", disse ela. "Não há proteção."

Seus advogados entraram com uma notificação junto ao Departamento de Moradia e Emprego Justo da Califórnia, que respondeu com uma carta dando a ela direito de processar. Na queixa, Vallejo pede indenização de valor não especificado e liminar de mudança de conduta.

O Marriott não apresentou imediatamente um comentário sobre o processo. Em um comunicado à imprensa em setembro, a empresa declarou que a "segurança de todos em nossas propriedades é sempre uma grande prioridade" e que estava introduzindo "dispositivos de alerta para os associados" em todas as suas unidades, em um programa que irá até 2020.

O processo chega após um ano de mobilização por parte de funcionários da rede Marriott pedindo medidas de segurança contra o mau comportamento dos hóspedes. Durante uma assembleia de acionistas em maio, oito funcionárias relataram experiências similares ou pediram para os executivos tomarem previdências. Mais recentemente, uma greve de quase dois meses resultou em reajustes salariais e medidas de proteção mais firmes contra assédio sexual para milhares de empregados sindicalizados da rede. No entanto, o Marriott de Irvine não tinha sindicato na ocasião.

Em sua queixa, Vallejo descreve detalhadamente o incidente no banheiro e seus repetidos pedidos por uma placa. Quando a empresa forneceu a placa em dezembro, era do tamanho de uma folha de caderno universitário. "Os homens ainda entram no banheiro", contou ela na entrevista. De acordo com o processo, a "falha (da administração) em prover proteção adequada" resultou em um "padrão consistente de conduta que ocorria de modo regular e frequente".

"O hotel a colocou nessa situação obviamente perigosa e sem defesa", declarou sua advogada, Lauren Teukolsky."Ela não tinha qualquer poder. Ela não podia se negar a limpar o sanitário."

Ao longo do último ano, o movimento #MeToo, focado inicialmente na indústria de entretenimento e no alto escalão das empresas, trouxe à tona as experiências da base da pirâmide. No ano passado, Walmart e McDonald's sofreram processos alegando assédio sexual no local de trabalho.

Os trabalhadores do ramo de hotelaria são particularmente vulneráveis. Mais de um quarto das queixas à Comissão de Igualdade de Oportunidades de Emprego dos EUA vem de setores com grande número de prestadores de serviços.

"Alguém precisa nos escutar. Basta", disse Vallejo.