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JPMorgan fica no meio de disputa pelo poder na Venezuela

Ben Bartenstein, Patricia Laya e Alex Vasquez

07/02/2019 11h09

(Bloomberg) -- O JPMorgan Chase se viu subitamente envolvido na disputa pelo poder na Venezuela. O dilema gira em torno dos índices de renda fixa do banco, que são a referência dos mercados para o desempenho de títulos de nações emergentes. Após a imposição de sanções amplas pelos EUA ao regime do presidente Nicolás Maduro na semana passada, a negociação de títulos inadimplentes do país praticamente parou -- algo que normalmente levaria o JPMorgan a retirar os papéis de seus índices.

No entanto, detentores dos títulos e políticos venezuelanos alinhados com Juan Guaido, o parlamentar que tenta derrubar Maduro com apoio dos EUA, estão pressionando o JPMorgan a manter os títulos nos índices.

Para os credores, o raciocínio é simples: eles serão forçados a se livrar dos papéis por preços irrisórios se a Venezuela for removida do índice. Para os aliados de Guaidó, a questão é mais complexa. Eles temem que, ao obrigar fundos mútuos, fundos negociados em bolsa (exchange-traded funds ou ETFs) e outros investidores tradicionais a se livrar dessas dívidas, os papéis cairão nas mãos de fundos de hedge que são mais agressivos e talvez tentem exigir judicialmente a reestruturação dos títulos. Isso prejudicaria seus esforços para conseguir que os credores aceitem uma substancial redução no valor da dívida, que é parte essencial do plano para estabilizar o país se conseguirem tomar o poder.

Um grupo de parlamentares venezuelanos tem falado por telefone com representantes do JPMorgan. Eles temem uma reestruturação desorganizada das dívidas como a que ocorreu na Argentina após a moratória em 2001, que se arrastou na justiça por anos e deixou o país fora dos mercados internacionais de capitais por mais de uma década. Em Londres, alguns fundos de hedge já estão de olho na dívida venezuelana, com a possibilidade de os papéis ficarem mais baratos em breve.

"Houve conversas com o JPMorgan", disse Carlos Paparoni, parlamentar de oposição que encabeça a comissão de finanças do Congresso. "Estamos interessados em uma reestruturação rápida, confiável e amigável."

No início da semana, um grupo de credores que incluiu Greylock Capital e Goldman Sachs Group se reuniu com representantes do Departamento do Tesouro dos EUA para falar sobre o medo de serem forçados a vender papéis com enorme desconto se a Venezuela for retirada do índice, segundo três pessoas a par do assunto. Os títulos de referência do país, com vencimento em 2027, foram negociados pela última vez por 33 por cento do valor de face.

O JPMorgan se recusou a comentar, mas na segunda-feira confirmou que estava revisando a inclusão da Venezuela em seus índices. Goldman Sachs e Greylock se recusaram a comentar. O Departamento do Tesouro não respondeu a pedidos de comentários.

O JPMorgan se recusou a comentar, mas na segunda-feira confirmou que estava revisando a inclusão da Venezuela nos índices. Goldman Sachs e Greylock também se recusaram a comentar. O Tesouro americano não retornou solicitações de comentário da reportagem.

Por vários anos, os títulos venezuelanos representaram pelo menos 5por cento dos principais índices do JPMorgan, mas recentemente o peso diminuiu para menos de 2 por cento ? ainda suficiente para convencer boa parte dos fundos mútuos dedicados a mercados emergentes a ter alguma exposição às dívidas. A maioria dos papéis ficou inadimplente ao longo do último ano e meio, em um período marcado por hiperinflação, queda da produção de petróleo e escassez de produtos na economia local.

No entanto, após as medidas do Departamento do Tesouro terem provocado a quase paralisação da negociação dos papéis, o JPMorgan decidiu reavaliar se a baixa liquidez desqualifica a Venezuela dos índices. As diretrizes não especificam prazo para remoção. Em abril do ano passado, a fabricante russa de alumínio Rusal foi retirada dos índices JPMorgan três semanas após a imposição de sanções pelos EUA.

"A exclusão significaria venda forçada por aspecto técnico", disse David Tawil, cofundador da Maglan Capital, em Nova York. "É um grande risco binário e ninguém sabe quanto os títulos podem cair."

Enquanto os bônus venezuelanos por muitos anos representaram pelo menos 5% dos índices de referência do JPMorgan, essa ponderação caiu para menos de 2% mais recentemente. Ainda assim, foi suficiente para obrigar a maioria dos fundos mútuos a ter alguma exposição à dívida, a maioria caiu em default nos últimos 12 meses, com a economia da Venezuela sendo prejudicada pela hiperinflação, queda na produção de petróleo e escassez generalizada. .

Mas após as medidas da semana passada do Departamento do Tesouro terem interrompido as negociações dos títulos, o JPMorgan está agora analisando se a baixa liquidez desqualifica a Venezuela dos índices. Suas diretrizes não especificam um período de tempo para possível remoção. Em abril passado, o produtor russo de alumínio Rusal foi ejetado dos índices do JPMorgan três semanas após as sanções dos EUA.

"Exclusão significaria venda forçada técnica", disse David Tawil, presidente e co-fundador da Maglan Capital LP em Nova York. "É um grande risco binário e não há como dizer quão baixos os títulos poderiam ir."

Nem todos os membros da oposição venezuelana estão pressionando para que os títulos permaneçam nos índices do JPMorgan. Uma facção de legisladores elogiou o argumentos feito anos antes pelo economista de Harvard Ricardo Hausmann, um conselheiro informal de Guaido, que os títulos devem ser retirados do benchmark. Sua proposta na época era que o JPMorgan criasse um "índice de Mercados Emergentes Decentes" que permitiria aos gestores de fundos investirem em países que aderissem a "padrões mínimos de respeito aos seus cidadãos".

No entanto, até o próprio Hausmann reconhece que os tempos são diferentes hoje em dia.

"Em maio de 2017, a Venezuela não havia deixado de pagar sua dívida", disse ele. "Os problemas mudaram."

Repórteres da matéria original: Ben Bartenstein em Lima, bbartenstei3@bloomberg.net;Patricia Laya em Caracas, playa2@bloomberg.net;Alex Vasquez em Caracas, avasquez45@bloomberg.net