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PDVSA tenta sobreviver a sanções impostas por EUA a seu petróleo

Fabiola Zerpa e Lucia Kassai

08/02/2019 14h39

(Bloomberg) -- Na companhia petrolífera estatal da Venezuela, o desespero e o caos estão instaurados uma semana depois que os EUA impuseram uma proibição de fato aos produtos de petróleo do país.

Trabalhando 24 horas por dia, os funcionários estão telefonando para dezenas de traders, alguns pouco conhecidos, em busca de novos mercados para seu petróleo bruto, segundo pessoas que descreveram o clima na Petróleos de Venezuela (PDVSA). Alguns mal dormem. Uma reunião para encontrar novos parceiros começou às 23 horas, disse uma pessoa. Os funcionários da PDVSA também estão trabalhando freneticamente para convencer fornecedores a vender-lhe produtos refinados, como a nafta, que são essenciais para manter sua indústria em funcionamento. Como a oferta desses produtos está sendo afetada pelas sanções, já surgiram os primeiros sinais de escassez de gasolina na zona rural.

Um êxodo de funcionários da PDVSA em áreas fundamentais, como comércio e abastecimento, só aumentou a confusão, de acordo com as pessoas. A PDVSA chegou a entrar em contato com ex-funcionários para pedir-lhes os números de telefone dos traders. A falta de funcionários experientes complicou o que seria, em circunstâncias normais, uma tarefa bastante objetiva: fazer acordos para que traders comprem as remessas de petróleo, que equivalem a menos da metade de um por cento do mercado global. (Os EUA costumavam comprar 400.000 barris por dia da Venezuela.) Ao mesmo tempo, as sanções reduziram as opções para fazer e receber pagamentos.

"A PDVSA está lutando desesperadamente para encontrar, através de fornecedores e clientes, gasolina e nafta para importar e também compradores para seu petróleo", disse Francisco Monaldi, especialista em política energética da América Latina na Rice University, em Houston. "Esse é o tipo de situação que os traders aproveitam para se beneficiar. A PDVSA terá que oferecer descontos para vender seu petróleo bruto e terá que pagar muito mais pelas importações."

O sucesso ou o fracasso dos esforços da PDVSA ajudará a selar o destino do sitiado líder Nicolás Maduro. O presidente Donald Trump impôs a sanção contra o petróleo venezuelano como parte do esforço dos EUA para conseguir que Maduro ceda o poder a um governo interino liderado por Juan Guaidó, o deputado que afirma ser o líder legítimo do país. Ao sufocar as finanças do regime de Maduro, os EUA esperam convencer as forças armadas da Venezuela a abandonar o líder autocrático. Mas essa abordagem implica um grande risco: os EUA estão atacando a única fonte de moeda forte da Venezuela e poderiam acabar exacerbando a crise humanitária no país.

Um assessor de imprensa da PDVSA minimizou o problema, dizendo que a companhia já conseguiu encontrar mercados de reposição para vender e comprar produtos de petróleo.

Não está claro como a PDVSA compensará a perda das vendas aos EUA, mas a companhia tem algumas opções. A China, que agora compra cerca de 300.000 barris por dia, poderia aumentar suas compras. A indiana Reliance Industries, também isenta das sanções, é outra provável compradora. Mas essas opções teriam um custo, devido ao maior tempo de transporte e à concorrência de ofertas do Oriente Médio. A PDVSA também poderia recorrer mais a intermediários, usando firmas de trading, como Trafigura Group, Glencore e Vitol Group, para conseguir compradores.

Repórteres da matéria original: Fabiola Zerpa em Caracas Office, fzerpa@bloomberg.net;Lucia Kassai em São Paulo, lkassai@bloomberg.net