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Plano da China para integrar Hong Kong e Macau levanta dúvidas

David Tweed, Yinan Zhao e Edwin Chan

19/02/2019 14h48

(Bloomberg) -- O tão aguardado plano da China para criar uma megalópole com tecnologia de ponta à altura do Vale do Silício, na Califórnia, no litoral do sul do país gerou otimismo na comunidade empresarial de Hong Kong, embora alguns detalhes fundamentais ainda não estejam claros.

O esquema para a Área da Grande Baía, que conectará as cidades litorâneas do sul da China com Hong Kong e Macau, uma das principais políticas do presidente Xi Jinping, apresentada pela primeira vez em 2017, deu impulso às bolsas após sua publicação na noite da segunda-feira. Segundo o plano, o governo transformaria a área em um dos principais centros de inovação do mundo, aumentaria a conectividade da infraestrutura e fortaleceria o papel de Hong Kong como centro internacional de finanças, exportações, comércio e negócios com o yuan offshore.

Contudo, várias questões espinhosas foram deixadas fora do plano, como perguntas complexas sobre quais sistemas alfandegários, fiscais e jurídicos seriam impostos. Em Hong Kong, o conceito da Área da Grande Baía causa receios de que uma maior integração abale a estrutura de "um país, dois sistemas" que permite à cidade manter sistemas jurídicos, monetários e políticos diferentes dos da China comunista.

"A imprecisão do documento de 11 capítulos sugere que as autoridades terão dificuldades para cumprir as metas da iniciativa", disse Yue Su, economista para a China da Economist Intelligence Unit. "As dificuldades em definir reformas que promovam a causa da integração regional e que sejam aceitáveis para as autoridades em Guangdong, Hong Kong, Macau e o governo central serão o principal desafio."

Se tudo ocorrer conforme o planejado, os benefícios econômicos podem ser grandes: o HSBC Holdings afirma que a medida de unir as cidades de Hong Kong, Macau, Shenzhen e Guangzhou poderia estimular uma economia que movimenta US$ 1 trilhão e exporta mais que o Japão. O anúncio deu impulso às ações da região. As dos portos de Guangzhou, Zhuhai e Shenzhen Yan Tian atingiram o limite de alta diário de 10 por cento.

No entanto, as principais empresas de tecnologia da China com sede em Shenzhen, que faz fronteira com Hong Kong, não fizeram seus futuros planos de crescimento em torno da Área da Grande Baía. Shenzhen se tornou uma meca da tecnologia asiática e abriga gigantes como a Tencent Holdings e a Huawei Technologies principalmente por causa de sua cultura industrial hipercompetitiva, e nem Hong Kong nem Macau são conhecidas como fontes de talentos globais da tecnologia.

O plano divulgado na segunda-feira enfatizou a importância de manter a estrutura de "um país, dois sistemas", que garante um alto grau de autonomia para Hong Kong e Macau. Mas também identificou a divergência de sistemas sociais, alfandegários e jurídicos como um desafio para o sucesso da Área da Grande Baía, sem dar detalhes sobre como eles seriam integrados.

"Economicamente, uma espécie de indefinição dos limites da estrutura de 'um país, dois sistemas' é inevitável", disse Sonny Lo, um professor de política da Universidade de Hong Kong que escreveu livros sobre a relação da cidade com Pequim. "Porém, considerando que Hong Kong e Macau têm diferenças jurídicas e políticas com a China, a estrutura de'um país, dois sistemas' será conservada."

--Com a colaboração de Benjamin Robertson, Chloe Whiteaker, Jeanny Yu, Amy Li e Will Davies.

Repórteres da matéria original: David Tweed em Hong Kong, dtweed@bloomberg.net;Yinan Zhao em Pequim, yzhao300@bloomberg.net;Edwin Chan em Hong Kong, echan273@bloomberg.net