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Seguradoras temem que riscos climáticos gerem crise financeira

William Wilkes

22/02/2019 16h05

(Bloomberg) -- As empresas de seguros estão cada vez mais preocupadas com a possibilidade de o aumento das temperaturas gerar uma queda nos valores das propriedades capaz de desencadear uma turbulência financeira maior.

Essas foram as conclusões de um grupo comandado a partir da Universidade de Cambridge que inclui algumas das maiores empresas de seguros do mundo. Em relatório publicado na sexta-feira, o ClimateWise afirmou que as crescentes catástrofes ligadas às mudanças climáticas poderiam triplicar os prejuízos em investimentos imobiliários nos próximos 30 anos.

O alerta se soma às preocupações levantadas no mês passado pela Munich Re, que afirmou que uma série de inundações, incêndios e tempestades violentas haviam duplicado a quantia normal de prejuízos seguráveis. A Munich Re afirmou que os prejuízos globais relacionados ao clima podem ter ultrapassado o patamar recorde de US$ 140 bilhões no ano passado.

"Não levar esses riscos em conta pode ser prejudicial para investidores e credores, individualmente, mas também para o sistema financeiro e para a economia como um todo", afirma o relatório de 74 páginas escrito em nome de integrantes do ClimateWise como Allianz, XL Group, Aviva e Lloyds Bank.

Este é o alerta mais recente do setor financeiro sobre os riscos físicos e financeiros representados pelo aumento das temperaturas. Enquanto alguns estrategistas de investimento acreditam que as mudanças climáticas oferecerão oportunidades, outros alertam para danos físicos a imóveis comerciais e residenciais.

Apesar da cautela adotada ao vincular algum evento climático ao aquecimento global, os cientistas construíram um consenso em torno da probabilidade de ocorrerem inundações, incêndios, secas e tempestades mais fortes com mais frequência à medida que a Terra ficar mais quente.

"Os grandes incêndios florestais parecem estar ocorrendo com mais frequência como resultado da mudança climática", disse Torsten Jeworrek, membro do Conselho da Munich Re. Ele acrescentou que os investidores deveriam reavaliar se assumiram a responsabilidade adequada pelos danos crescentes causados pelas catástrofes climáticas.

A seguradora alemã registrou US$ 160 bilhões em perdas decorrentes de catástrofes naturais no ano passado, cerca de US$ 20 bilhões acima das médias ajustadas pela inflação nas três décadas anteriores.

O relatório do ClimateWise recomenda que os investidores façam inventários mais minuciosos de imóveis residenciais e comerciais, elaborando registros de riscos de enchentes e dos materiais de construção usados. Eles também deveriam incorporar as projeções climáticas dos cientistas em seus próprios modelos para catástrofes.

Em um cenário testado pelo ClimateWise, os prejuízos com hipotecas no Reino Unido poderiam dobrar se as temperaturas subissem 2 graus Celsius e triplicar se o aquecimento aumentasse 4 graus Celsius. A Organização das Nações Unidas (ONU) quer manter o aumento da temperatura média bem abaixo de 2 graus Celsius, o que ainda assim representaria a mudança climática mais rápida desde a última era do gelo, que terminou há cerca de 10.000 anos.

"As instituições financeiras com investimentos de longo prazo, como bancos e sociedades construtoras que oferecem novos empréstimos imobiliários de 35 anos na atualidade, terão exposições ao risco nesse período de tempo", afirmou o relatório.