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Aposta da Roche em geneterapia amplia rivalidade com Novartis

Tim Loh e Naomi Kresge

25/02/2019 15h16

(Bloomberg) -- A oferta de US$ 4,8 bilhões da Roche Holding pela Spark Therapeutics aumenta ainda mais a aposta na tentativa de comprar produtoras de terapias que prometem tratar doenças raras e debilitantes corrigindo falhas congênitas do DNA.

A compra da Spark, que tem sede na Filadélfia, EUA, colocará a Roche perto da liderança junto com a vizinha suíça Novartis no desenvolvimento dessa nova e promissora área da medicina e ressalta o crescente entusiasmo por um campo que virou foco de uma onda de negócios.

A Roche está ingressando na terapia genética depois que a Novartis fechou acordo, no ano passado, para pagar US$ 8,7 bilhões pela AveXis e pela terapia de DNA Zolgensma, que trata -- e pode curar -- a atrofia muscular espinhal, uma doença muscular rara que é a principal causa genética de morte de bebês. A Spark dará à Roche a chance de recuperar terreno em um campo no qual cada tratamento pode custar mais de US$ 1 milhão. Além disso, a empresa também obtém um ativo que concorrentes como a Novartis podem ter cobiçado, segundo Pierre Corby, analista do Oddo BHF.

"O preço pago representa uma ótima oportunidade para a Roche ganhar presença no campo de geneterapia e se dar -- a um preço mais do que razoável -- uma plataforma já validada", disse Corby em nota aos clientes.

A Roche pagará US$ 114,50 por ação pela empresa de biotecnologia, 122 por cento acima do preço de fechamento da empresa de biotecnologia na sexta-feira. Apesar do preço elevado, as ações da Spark eram negociadas acima de US$ 90 no ano passado. A Roche afirmou que sua oferta era 19 por cento superior à maior alta intradiária da Spark em 52 semanas.

A compra da Spark faz parte da expansão da empresa suíça fora dos tratamentos contra o câncer, onde está enfrentando uma concorrência mais acirrada de novos remédios e de cópias mais baratas de seus remédios antigos. A empresa está se ramificando para novas áreas, incluindo esclerose múltipla e hemofilia.

A Roche entrou no mercado de hemofilia nos últimos dois anos com o Hemlibra, um anticorpo que imita a ação do fator de coagulação necessário para interromper o sangramento. Os investidores há muito questionam se a Roche poderia competir a longo prazo sem ter uma terapia genética. O acordo da Spark soma valor à franquia da Roche, ao mesmo tempo em que dá acesso à única plataforma "com um histórico comprovado de fornecimento de terapia genética ao mercado", disse Stefan Schneider, analista da Vontobel Research, em uma nota aos clientes.

"Continuaremos a investir neste espaço", disse o CEO da Roche, Severin Schwan, em uma entrevista, afirmando que a empresa irá analisar tecnologias e ativos.

O Hemlibra, um tratamento da Roche para a hemofilia A, trata o maior grupo de pacientes com o distúrbio e recebeu aprovação regulatória nos EUA em outubro, levando a farmacêutica suíça mais longe dentro desse território ocupado pela Shire e pela Bayer. A aquisição planejada da Celgene pela Bristol-Myers Squibb ameaça tirar da Roche o primeiro lugar no mundo em medicamentos contra o câncer, mas a Roche não desistirá do ramo oncológico: o Perjeta é um dos que mais crescem dentro da empresa e o Tecentriq tem apresentado bom desempenho em diversos novos estudos.

A compra da Spark, que foi fundada em 2013 no Children's Hospital of Philadelphia para desenvolver tratamentos pioneiros lá, entregará à Roche a Luxturna, uma terapia genética para doenças oculares. A empresa de biotecnologia também oferece quatro produtos que passam por ensaios clínicos, além de programas de desenvolvimento em estágio inicial contra enfermidades raras como a doença de Huntington. Seu tratamento experimental para a hemofilia A complementa o Hemlibra, disseram analistas do Morgan Stanley liderados por Mark Purcell, em nota nesta segunda-feira.

--Com a colaboração de Ben Scent e James Paton.

Repórteres da matéria original: Tim Loh em Munich, tloh16@bloomberg.net;Naomi Kresge em Berlin, nkresge@bloomberg.net