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Tensão comercial reduz entusiasmo com cenário para soja dos EUA

Shruti Date Singh

25/02/2019 15h52

(Bloomberg) -- Quando produtores agrícolas e analistas se reúnem no fórum anual de perspectivas do governo dos EUA, as conversas normalmente giram em torno de assuntos como plantações e clima. Neste ano, o assunto mais comentado foi o comércio.

É difícil depositar confiança nas projeções de área de cultivo e estoques que foram divulgadas, porque, no fim das contas, todos esses dados dependerão muito do que vai acontecer nas negociações comerciais entre a China e os EUA, disse Rich Feltes, diretor de informações de mercado da R.J. O'Brien & Associates.

"Não há nada aqui para movimentar os mercados", disse Feltes sobre os dados e perspectivas divulgados pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) nos dois dias de sua conferência anual de perspectivas que terminou na sexta-feira em Arlington, Virgínia. "Não há nada aqui que tenha mudado o discurso geral."

A reunião do USDA coincidiu com um momento de intensas negociações comerciais entre o governo de Donald Trump e a China. Trump disse que vai adiar o fim de um prazo para o aumento das tarifas sobre produtos chineses, que terminaria nesta semana, citando "progressos substanciais" na última rodada de negociações, concluída no domingo em Washington.

Na verdade, a maior novidade da semana com relação ao USDA surgiu quando a conferência estava chegando ao fim, na sexta-feira, no momento que o secretário da Agricultura, Sonny Perdue, anunciou no Twitter que a China se comprometeu a comprar mais soja dos EUA.

No dia seguinte, Perdue disse que a China deve fazer sua próxima rodada de compras da soja americana "relativamente rápido", acrescentando que milho, etanol, carne bovina e aves também fazem parte das discussões comerciais entre os dois países.

Os fazendeiros americanos foram pegos no fogo cruzado da guerra comercial entre Pequim e Washington, depois que o país asiático impôs tarifas de retaliação aos produtos agrícolas americanos.

A China voltou recentemente ao mercado dos EUA. As compras fizeram parte de uma demonstração de boa vontade em meio às negociações comerciais. Os traders gostariam de ver o país asiático voltar a fazer compras "impulsionadas pelo mercado", ao invés de apenas compras com motivações políticas, disse Feltes.

"As negociações comerciais talvez não tenham sido um fator dinâmico no passado" como pano de fundo na conferência do USDA, disse Seth Meyer, presidente do Conselho Mundial de Perspectiva Agrícola, que supervisiona o fórum, em uma entrevista à margem da conferência. Neste ano, o assunto "está na cabeça de muita gente".

A briga comercial causou enormes repercussões em toda a indústria agrícola global. As rotas normais de exportação foram interrompidas, porque o país asiático passou a comprar mais de qualquer outro lugar, menos dos EUA.

"Isso está afetando os mercados globais", disse Ramiro Costa, vice-diretor executivo da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, da Argentina, depois de fazer uma apresentação sobre o setor agrícola do país. "Está mudando os fluxos comerciais."

Embora o aumento da demanda por safras sul-americanas tenha elevado os prêmios para alguns produtores, também provocou consequências não intencionais, como custos mais altos de alimentos para produtores de gado e menor disponibilidade de colheita para plantas de soja.

"Torcemos por uma resolução amigável para restaurar os fluxos do comércio", disse Costa. "Quanto mais rápido eles resolverem isso, melhor para os mercados."