Cientistas de Dubai criam plantas que suportam desertos salgados
(Bloomberg) -- Cientistas de Dubai estão desenvolvendo culturas como a de quinoa, capazes de crescer no solo salgado que invade as terras cultiváveis do mundo. O maior desafio, no entanto, é convencer um número suficiente de pessoas a comê-las.
Em uma fazenda experimental à vista do arranha-céu mais alto do mundo, pesquisadores do Centro Internacional de Agricultura Biossalina (ICBA, na sigla em inglês) estão tentando ajudar os produtores rurais do Oriente Médio e de outras partes a ganhar a vida com plantas improváveis, conhecidas como halófitas. Essas plantas, da famosa quinoa à desconhecida salicórnia, crescem em ambientes salgados e áridos nos quais culturas básicas como trigo ou arroz murcham.
A preocupação com as mudanças climáticas, o crescimento populacional e a degradação de terras cultiváveis férteis aumentam a urgência do trabalho do ICBA, que tem um orçamento apertado, de US$ 15 milhões por ano. A Organização das Nações Unidas estima que a produção de alimentos precisará aumentar 60 por cento em 30 anos para atender a demanda e os ganhos no rendimento das safras estão diminuindo.
"É possível ver o desastre que está a caminho. Não consigo entender por que não há mais pessoas agindo para evitar isso", diz Ismahane Elouafi, diretor-geral do ICBA. Os governos relutam em investir em novos alimentos e ficam amarrados a culturas básicas que "precisam de muita água".
Por meio de reprodução seletiva, o instituto de pesquisa sem fins lucrativos desenvolveu cinco variedades de quinoa -- um grão rico em proteína e sem glúten com sabor de arroz com nozes -- que cresce especialmente bem em solo salgado. O centro está introduzindo a quinoa no Egito e no Marrocos.
Os agrônomos do ICBA cultivam uma miscelânea de lotes arenosos no limite do deserto interior de Dubai. Um cofre no qual a temperatura é mantida a 2 graus Celsius protege os frutos de seus esforços: 14.000 tipos de sementes de mais de 250 espécies de plantas.
Essas sementes são suficientes para o uso experimental, mas para que a produção de halófitos em grande escala avance é preciso apoio do governo ou de empresas. O plantio de uma nova safra é apenas o primeiro passo para o ICBA, que opera projetos em 28 países, do Senegal a Bangladesh, e tem como principais doadores os EUA, a Suécia e os Emirados Árabes Unidos. O centro precisa transformar as conquistas de laboratório em sucessos comerciais.
"O aspecto do marketing é vital", disse Dionyssia Lyra, agrônoma do ICBA especializada em halófitos. "Precisamos de publicidade. Precisamos de chefs."
A quinoa normalmente é mais cara do que o trigo e os produtos feitos a partir dela não são muito conhecidos. Para fazer progresso na zona rural do Egito, o ICBA organizou oficinas de culinária para 120 mulheres para treiná-las na preparação de alimentos a partir de culturas tolerantes ao sal. Mudar paladares mostrou ser difícil em outros mercados.
Wajih Syed, cofundador da Kinwa Foods, passou mais de dois anos convencendo produtores rurais do Paquistão a plantar sementes de quinoa fornecidas pelo ICBA em solos salgados. O grão pode render a esses agricultores até 20 por cento mais lucros do que o trigo e alguns produtores começaram a cultivá-lo em terras que já não são férteis o suficiente para as culturas tradicionais, disse. Mas o grão continua sendo um produto de nicho.
"Mudar hábitos alimentares de mil anos não é fácil", disse Syed. "Eu não imagino a quinoa se transformando em alimento básico no Paquistão, pelo menos não na próxima década."
--Com a colaboração de Jonathan Tirone.
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