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Feminismo das jovens não se estende ao planejamento financeiro

Lananh Nguyen e Michelle Kim

06/03/2019 15h56

(Bloomberg) -- Marielle Schurig fez uma palestra em um evento sobre bem-estar realizado na loja da Lululemon Athletica, no bairro Flatiron, em Nova York. Ela falou a mulheres que acabavam de sair de aulas de ioga e treinamento em circuito. Depois da palestra, as participantes aguardaram até uma hora na fila para conversar com ela sobre suas finanças.

Elas disseram a Schurig, 31 anos e responsável por contas na UBS Financial Services, que seus namorados ou maridos tomavam as decisões sobre dinheiro. Apesar de investirem horas no próprio bem-estar, muitas dessas autoproclamadas feministas admitiram que não tomavam as rédeas de suas finanças.

Isso não é raro: 59 por cento das mulheres com idade entre 20 e 34 anos deixam as decisões de investimento e planejamento financeiro a cargo dos maridos, de acordo com pequisa do UBS Group divulgada nesta quarta-feira. O banco suíço descobriu que as mulheres mais jovens são mais inclinadas do que as de gerações anteriores a deixar essa função com seus parceiros.

"Fiquei realmente surpresa", disse Schurig em entrevista realizada no escritório do UBS em Nova York. "As mulheres lutam por direitos e oportunidades iguais, por respeito no trabalho e em casa. Há tantas mulheres concorrendo a cargos políticos. Continuamos falando em romper tetos de vidro. Mas quando ganhamos o dinheiro e alcançamos essas posições, o que fazemos?"

A UBS Global Wealth Management fez uma sondagem global com 3.652 mulheres com pelo menos US$ 250.000 em ativos para investir. As mais jovens, da chamada geração Millennial, citaram outras responsabilidades como mais urgentes do que investir e cuidar do planejamento financeiro, de acordo com o levantamento. Além disso, as mulheres não incluem a saúde financeira como fator em seu bem-estar, disse Schurig, que é frequentadora de uma academia da rede SoulCycle.

"As mulheres passam tanto tempo pesquisando sobre cosméticos e maquiagens, mas não sentam para examinar a vida financeira", afirmou ela. "Dificilmente teremos igualdade total com os homens se não estivermos na mesma discussão sobre finanças."

O estudo concluiu que as mulheres são profundamente envolvidas com as finanças do dia a dia: 80 por cento pagam as contas e 85 por cento administram as despesas regularmente. No entanto, esse engajamento não se estende ao futuro.

"As mulheres tendem a cuidar das contas diárias, do orçamento, e não do planejamento de longo prazo", disse Kathleen Entwistle, 53 anos, consultora para fortunas pessoais do UBS Financial Services, durante uma apresentação em Nova York.

"Elas se sentem sobrecarregadas. A ideia não é se homens ou mulheres são melhores. É a dinâmica que nos foi ensinada, foi como crescemos e como pensamos sobre esses assuntos."Cerca de 82 por cento das entrevistadas em todas as faixas etárias revelaram acreditar que os homens sabem mais sobre investimentos e planejamento financeiro.

Brasil e México registraram as menores parcelas de mulheres jovens que deixam as decisões financeiras para os maridos. Já na Suíça, Hong Kong e Cingapura, menos de 10 por cento das mulheres tomam decisões financeiras junto com os cônjuges.

Uma pesquisa feita pela S&P Global junto a quase 10.000 pessoas nos EUA concluiu que 26 por cento das mulheres americanas fazem investimentos, embora 41 por cento achem que é boa hora para atuar ativamente nos mercados.

Wendy Holmes, 47 anos, outra consultora de fortunas privadas na UBS FinancialServices, espera que essas conclusões incentivem mais mulheres a agir. Uma de suas clientes, mãe solteira, teve uma reação marcante à pesquisa feita no ano passado."Ela admitiu que abriu os olhos e que queria estar mais engajada e entender melhor como estava investindo", contou Holmes.

--Com a colaboração de Venus Feng e Suzanne Woolley.

Repórteres da matéria original: Lananh Nguyen em N York, lnguyen35@bloomberg.net;Michelle Kim em N York, mkim651@bloomberg.net