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Universidades dos EUA cedem à pressão de Trump e evitam Huawei

Todd Shields

13/03/2019 14h30

(Bloomberg) -- Grandes universidades dos EUA estão recusando o financiamento de pesquisa oferecido pela Huawei Technologies devido à pressão do Congresso e do governo Trump para limitar o contato com a fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações por preocupações com a segurança nacional.

A Universidade de Princeton, a Universidade de Stanford, a Universidade Estadual de Ohio e a Universidade da Califórnia em Berkeley anunciaram que vão cortar ou reduzir os vínculos com a Huawei. A empresa doou US$ 10,6 milhões em presentes e contratos para nove universidades dos EUA, destinados a programas de tecnologia e comunicação, entre 2012 e 2018, de acordo com o Departamento de Educação dos EUA.

"Cada vez mais universidades do país cortaram seus vínculos", disse Tobin Smith, vice-presidente da Associação de Universidades Americanas, que representa 62 instituições de pesquisa. Em setembro, o FBI realizou "uma cúpula importante" com presidentes de universidades em Washington, disse Smith.

O recuo das universidades evidencia como a pressão em torno da Huawei afeta discretamente as instituições de pesquisa, embora as autoridades dos EUA estejam empreendendo uma agressiva campanha pública para que empresas e aliados europeus evitem fazer negócios com a companhia chinesa. Promotores federais indiciaram a empresa em janeiro sob a acusação de roubo de segredo comercial, e sua diretora financeira foi presa no Canadá por acusações dos EUA de violar sanções impostas ao Irã.

As faculdades e universidades dos EUA funcionam em um éthos de intercâmbio intelectual aberto e mundial. Elas se esforçam para proteger a liberdade acadêmica da influência governamental, política e corporativa e tentam resistir à pressão para romper relações e financiamentos de pesquisa. No entanto, no caso da Huawei, algumas universidades cederam - embora com relutância.

"A Huawei tem sido uma boa parceira. No entanto, levamos muito a sério as acusações federais sobre as práticas de negócios da empresa", disse o vice-chanceler de pesquisa de Berkeley, Randy Katz, em entrevista.

"É realmente um desserviço às empresas de tecnologia nos EUA e na Europa e aos pesquisadores das universidades que estão na vanguarda de novos desenvolvimentos científicos e técnicos neste campo serem impedidos de interagir com empresas como a Huawei", disse Katz. "Estamos abandonando a oportunidade de aprender."

Autoridades dos EUA afirmam que a Huawei pode representar uma ameaça de espionagem, em parte porque, segundo a lei chinesa, a companhia deve responder às agências de segurança de Pequim. A empresa com sede em Shenzhen discorda de tais afirmações e afirma que nenhuma evidência foi apresentada sobre quaisquer delitos. As acusações contra a empresa podem ter natureza política, disse um advogado da diretora financeira da Huawei, que está lutando contra a extradição de Vancouver para os EUA, em um tribunal canadense em 6 de março.

O governo do presidente Donald Trump dedicou muita atenção ao papel da Huawei nas universidades. O Departamento Federal de Investigação (FBI, na sigla em inglês) e agências de inteligência informaram o pessoal do Departamento de Educação em 18 de julho na chamada Sala de Situação Crítica da Casa Branca, de acordo com uma carta de 9 de novembro aos legisladores escrita por Diane Auer Jones, principal subsecretária adjunta da Educação.

O porta-voz do Departamento de Educação, Jim Bradshaw, preferiu não comentar.

O FBI "se reuniu com autoridades acadêmicas como parte de nosso contínuo envolvimento em questões de segurança nacional", segundo comunicado da agência.

"Eles tomam muito cuidado para não dizer que você deve ou não deve lidar com essa empresa", disse Smith, da Associação de Universidades Americanas. "Mas eles ajudam você a avaliar o risco."

A Huawei convida estudiosos de pesquisa a participar do Programa de Inovação e Pesquisa da Huawei, que oferece financiamentos de US$ 30.000 a US$ 70.000 para investigações sobre tecnologia da comunicação, ciência da computação, engenharia e áreas afins. O programa tem mais de 1.000 parceiros de colaboração, como a Universidade de Cambridge, a Universidade Nacional de Cingapura e a Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, de acordo com seu website.

Chase Skinner, um porta-voz da Huawei, não respondeu a reiteradas consultas feitas por e-mail e telefone durante vários dias.