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Corte de taxas sinaliza problemas para gestoras de ETFs nos EUA

Rachel Evans

20/03/2019 14h43

(Bloomberg) -- Gestoras de recursos estão revelando um certo desespero na guerra aparentemente sem fim envolvendo as taxas dos fundos.

Na semana passada, uma firma iniciante no ramo de fundos negociados em bolsa (exchange-traded funds) criou burburinho ao fazer o que já foi impensável: pagar investidores para comprar seus ETFs. A novidade vem na esteira da rodada agressiva de cortes de taxas por oito provedoras de fundos, incluindo JPMorgan Chase, Vanguard e BlackRock.

No fim das contas, nunca foi tão barato investir em ETFs. Para alguns, é sinal de que, com a taxa média se aproximando de zero, nem tudo vai tão bem para a indústria de investimentos passivos.

"Isso pode dar errado" para as gestoras de recursos, disse Eric Balchunas, analista da Bloomberg Intelligence.

Após a expansão acelerada que criou uma indústria de US$ 7 trilhões, os fundos de índices enfrentam menor crescimento dos ativos e queda da receita com taxas. As margens de lucro encolheram e até as maiores gestoras demitiram pessoal para baixar custos. As ações das gestoras de fundos se distanciaram das máximas alcançadas um ano atrás, mesmo após a recuperação observada nos últimos meses. E a impressão de que já passou o"auge" da modalidade de investimento passivo está mais presente.

A guerra de preços "reflete a concorrência intensa, porque é preciso uma quantidade enorme de ativos para fazer isso funcionar", disse SusanneAlexandor, gestora de carteiras da Cougar Global Investments, que supervisiona mais de US$ 1,2 bilhão.

A proposta de taxa abaixo de zero da Salt Financial ? que antes administrava um único ETF com US$ 11 milhões ? é considerada uma jogada de marketing para atrair clientes e ampliar o total de ativos sob gestão. Durante o primeiro ano, investidores receberão 50 centavos a cada US$ 1.000 que aplicarem em um novo ETF de baixa volatildiade - até atingir US$ 100 milhões. Depois do primeiro ano, pode entrar em vigor uma taxa de administração de 0,29 por cento ou US$ 2,90 a cada US$ 1.000 investidos.

Ainda assim, a corrida na direção da taxa zero é bem real. A Fidelity Investments deu a largada em agosto com a oferta de fundos de índices gratuitos. Em fevereiro, a SoFi anunciou que abriria mão da comissão sobre dois novos ETFs durante o primeiro ano de vigência. Na semana passada, o JPMorgan começou a vender o ETF mais barato dos EUA, que cobra 20 centavos a cada US$ 1.000 aplicados. E nesta quarta-feira, a BlackRock revelou a intenção de cortar taxas para grandes clientes em um de seus fundos que acompanham o S&P 500.

Com a maior concorrência por dinheiro de clientes, a pergunta é até que ponto as gestoras de recursos devem baixar preços e se esta é uma boa ideia.

"Se o crescimento orgânico for para coisas que não geram dinheiro, as margens caem", enfatizou Balchunas. "É isso o que realmente assusta" os acionistas dessas gestoras de fundos.

Preço do sucesso

De certa forma, os fundos passivos são vítimas do próprio sucesso. Durante a fase mais longa de ganhos das bolsas dos EUA, o total de ativos aplicados em ETFs mais do que quadruplicou. Essa rápida proliferação teve preço ? literalmente. Em termos ponderados pelos ativos, a taxa média caiu 41por cento no período para US$ 2 a cada US$ 1.000 aplicados, segundo dados do Instituto de Companhias de Investimento.

BlackRock, Vanguard Group e State Street - que juntas supervisionam mais de 80 por cento dos US$ 3,8 trilhões investidos em ETFs nos EUA - saíram na dianteira. Mais de 97 por cento do dinheiro que entrou em fundos de índices no ano passado foi para fundos que cobram US$ 2 ou menos. A Vanguard, por exemplo, atraiu mais de US$ 4 bilhões na semana passada para um ETF quando fez dele a estratégia de menor custo para acompanhar o S&P 500.