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Macri faz aposta perigosa em meio a retração de 6% na Argentina

Patrick Gillespie e Jorgelina do Rosario

21/03/2019 16h15

(Bloomberg) -- O presidente da Argentina, Mauricio Macri, está apostando que a inflação mais baixa e a moeda estável acabarão sendo mais importantes para os eleitores do que o crescimento econômico, um tiro que pode sair pela culatra na eleição deste ano.

Diante de uma batalha difícil para conseguir um novo mandato de quatro anos no fim do ano, muitos políticos se sentiriam tentados a investir para estimular o consumo e colocar mais dinheiro nos bolsos dos eleitores. Mas, com o resgate de US$ 56 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI) a caminho, as autoridades políticas argentinas têm pouco espaço de manobra.

Macri está cortando gastos para equilibrar o orçamento neste ano, enquanto o banco central retira mais dinheiro da economia e mantém a taxa básica de juros do país acima de 60 por cento, a mais alta do mundo.

"Trata-se de uma decisão política muito arriscada para Macri", disse Walter Stoeppelwerth, CEO da Portfolio Personal Inversiones em Buenos Aires. "Eles dobraram a aposta na semana passada. Isso perpetuará a recessão, porque a economia não consegue sair da lona com 63 por cento de juro."

O PIB do país caiu 6,2% no quarto trimestre na comparação anual.

Uma abordagem responsável poderia ser combater a teimosa inflação elevada e preparar o caminho para uma recuperação mais sustentável a partir de 2020. Mas isso pode custar a Macri votos e, possivelmente, a eleição. Após um 2018 desanimador, com queda de 50 por cento do peso, os argentinos veem a inflação atingir 40 por cento nos 12 meses seguintes.

O banco central reiterou a missão de combater a inflação na semana passada após a divulgação de índices de preços ao consumidor mais altos do que o esperado e dobrou a aposta no plano de restringir a quantidade de pesos em circulação. Embora o FMI tenha admitido que domar a inflação tem sido mais difícil do que se esperava, os esforços do governo para equilibrar o orçamento foram elogiados.

"É um exercício de equilíbrio e todos nós estamos cruzando os dedos", disse Siobhan Morden, chefe de estratégia de renda fixa do Nomura na América Latina. "A prioridade dele é reduzir a volatilidade cambial, porque a única forma indireta de estimular o consumo é recuperar os salários reais por meio de uma inflação mais baixa."

É verdade que as dolorosas políticas implementadas pelas autoridades argentinas têm um lado positivo. Quando o governo receber US$ 10,9 bilhões do FMI em abril, poderá vender cerca de US$ 60 milhões por dia no mercado de câmbio até o fim do ano para estabilizar o peso.

O acordo do FMI também afirma especificamente que o governo poderá elevar os gastos sociais se os argentinos "mais vulneráveis" forem afetados pela política de austeridade. Macri já elevou as despesas de apoio às crianças em 46 por cento em março. Outros programas podem receber impulso ainda neste ano.

Poucos analistas acreditam que Macri respeitará completamente seu austero orçamento, especialmente em um ano eleitoral. Uma disputa acirrada também poderia obrigá-lo a prometer uma mudança de rumo.

Repórteres da matéria original: Patrick Gillespie em Buenos Aires, pgillespie29@bloomberg.net;Jorgelina do Rosario em Buenos Aires, jdorosario@bloomberg.net