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Mudança para serviços testa paciência do investidor da Apple

Mark Gurman e Lucas Shaw

26/03/2019 12h05

(Bloomberg) -- A expansão da Apple além do hardware está levando mais tempo do que alguns analistas esperavam enquanto a empresa está aprendendo a disputar novos parceiros fora do setor de tecnologia.

A Apple revelou quatro novos serviços digitais em um evento repleto de estrelas no Vale do Silício, na segunda-feira. Todos tiveram elementos decepcionantes, como falta de detalhes, lançamento posterior ou recursos já disponibilizados por outros.

Um serviço de streaming de vídeos originais e uma assinatura de jogos serão lançados no outono (Hemisfério Norte) e a Apple não revelou quanto custarão. Um serviço de assinatura de notícias deixou de fora vários jornais importantes, e aqueles que aceitaram fazer parte possivelmente guardarão para si parte do conteúdo. O cartão de crédito revelado em parceria com o Goldman Sachs Group oferece recompensas semelhantes às de cartões concorrentes.

Os anúncios mostram que a Apple quer realmente ser uma provedora líder de serviços digitais, e não apenas vender aparelhos bonitos e caros. Mas a mudança está empurrando a empresa a um novo território no qual ela tem menos experiência.

O CEO Tim Cook é um especialista em cadeia de abastecimento que passou anos negociando com ávidos fabricantes de componentes na Ásia para montar o bem-sucedido iPhone. Agora a Apple precisa repetir o feito com estrelas de Hollywood, editores de jornais, bancos e produtoras de jogos. Muitos desses parceiros são mais cautelosos em trabalhar com gigantes da tecnologia ou já se uniram a rivais como Netflix, Amazon e Google.

"Eles se consolidaram como mestres no campo dos componentes, mas entretenimento de vídeo é algo completamente diferente", disse Mike Bloxham, vice-presidente sênior de mídia e entretenimento global da consultoria Magid.

Quando a Apple revelou seu serviço de streaming original TV+, estrelas de Hollywood como Oprah Winfrey, Steven Spielberg e Jason Momoa estavam presentes para promover o produto e falar sobre seus projetos futuros com a gigante de tecnologia.

Isso mostrou que a empresa é capaz de atrair grandes talentos com a promessa de mais de 1 bilhão de donos de dispositivos como possíveis espectadores. Mas para alguns analistas o evento fracassou quando a Apple disse que os preços seriam anunciados mais tarde, ainda neste ano.

"A introdução do novo serviço pago por assinatura Apple TV+ pela Apple, ou mais notavelmente o esforço da Apple no campo do conteúdo original, gera mais perguntas do que respostas para nós e para os investidores", escreveu Aaron Rakers, analista da Wells Fargo Securities.

O novo serviço de vídeo da Apple não será um "matador da Netflix" e não afetará significativamente as perspectivas de investimento para a empresa de Cupertino, Califórnia, segundo Colin Gillis, diretor de pesquisa da Chatham Road Partners.

O mercado de streaming de vídeo já está lotado e outros grandes novos participantes aparecerão ainda neste ano. Bloxham, da Magid, disse que a Apple precisa lidar com uma rede complexa de negócios e relacionamentos pré-existentes -- e egos enormes.

"A Apple simplesmente não é deste espaço", disse. "Como outras empresas de tecnologia já descobriram, não é fácil estruturar essas relações."

Repórteres da matéria original: Mark Gurman em San Francisco, mgurman1@bloomberg.net;Lucas Shaw em Los Angeles, lshaw31@bloomberg.net