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Peste africana provoca apocalipse no rebanho suíno da China

Bloomberg News

12/04/2019 16h04

(Bloomberg) -- Visitas não são bem-vindas no criadouro de porcos de Zhao Baojiang. A fazenda dele, próxima a Pequim, lembra uma fortaleza. Quem recebe permissão para entrar precisa estacionar a quase um quilômetro de distância, colocar os calçados especiais que ele fornece e vestir macacões descartáveis para evitar a introdução do vírus da peste suína africana.

O cuidado extremo de Zhao para controlar infecções e o muro de tijolos que protege sua propriedade provavelmente ajudaram a salvar seus 500 animais do contágio que vem dizimando rebanhos em toda a China desde agosto. Celeiros vazios por toda a aldeia de Xi Fengwu, localizada 60 quilômetros ao sul da capital, indicam que poucos vizinhos de Zhao tiveram essa sorte.

A doença matou dezenas de milhares de porcos na China, país que concentra metade do rebanho suíno do mundo. Pior ainda, milhões de animais foram abatidos para conter a disseminação, incluindo fêmeas reprodutoras e leitões. As últimas previsões oficiais apontam para uma perda este ano equivalente a toda a oferta anual suínos da União Europeia.

Zhao, 67 anos, duvida que as fazendas afetadas se recuperem tão cedo.

"Poucos ousam criar porcos novamente", disse Zhao. "Se sua fazenda é atingida pela doença, você fica sem nenhum dinheiro ? foi o caso de muita gente no ano passado. É óbvio que não sobraram muitos porcos."

O quadro representa uma ameaça não só para os milhões de chineses que trabalham na suinocultura, mas também inflação de alimentos no país com o maior consumo per capita de carne suína depois do Vietnã e da UE. Os preços de carne de porco no atacado subiram mais de 9 por cento desde o final de julho.

Efeito inflacionário

O encarecimento da carne suína ? elemento importante na cesta que compõe o índice de preços ao consumidor na China ? causará disparada da inflação nos próximos meses, segundo projeções do Industrial Bank, China International Capital, Citic Securities e Nomura International. Isso pode impedir o banco central de baixar juros. A expectativa é que o índice de preços ao consumidor atingirá o maior nível desde outubro de 2013.

A oferta doméstica do produto deve ficar pelo menos 4 milhões de toneladas abaixo da demanda, de acordo com Ma Chuang, vice-secretário geral da Associação Chinesa de Ciência Animal e Medicina Veterinária. Ele estima que a população suína diminuirá até 30 por cento em relação a 2018 - o equivalente a 128 milhões de animais.

"O mercado global não terá carne suína suficiente para abastecer a China", disse Ma durante entrevista em Pequim. "O déficit não será preenchido nem com aves e outras carnes."

A peste suína africana pode mudar a dieta dos chineses e intensificar o consumo de outros alimentos ricos em proteínas, como ovos e laticínios, acrescentou Ma. Os preços de frango, carne bovina e frutos do mar tendem a subir devido à escassez global causada pelos surtos de doença na China, de acordo com o Rabobank. A China realizou sua maior compra carne de porco dos EUA na primeira semana de abril, pressionando para cima as cotações no mercado de futuros de Chicago.

Em algumas áreas, as vendas semanais de carne suína caíram pela metade porque os restaurantes estão comprando menos, disse Xie Yifang, em Xinfadi, o maior mercado atacadista ao sul de Pequim.

Contágio

Mesmo depois do abate de animais doentes e potencialmente infectados, das restrições à circulação de porcos e do fechamento de mercados de animais vivos em zonas de surto, a peste suína africana continuou se espalhando, embora a um ritmo mais lento do que no final de 2018.

Tibete e Xinjiang, regiões onde a carne de porco não é amplamente consumida, confirmaram surtos no início de abril, enfatizando o que o ministro da Agricultura e Assuntos Rurais, Han Changfu, descreveu como uma "situação complicada e sombria" nos esforços para deter o vírus.

Surtos forçaram fazendeiros a realizar a maior eliminação de porcos e fêmeas reprodutoras em mais de uma década, disse Yang Hanchun, professor da Universidade de Agricultura da China. Em Shandong, uma importante província produtora de suínos, o contingente reprodutor diminuiu 30 por cento em fevereiro, de acordo com o governo local.

To contact Bloomberg News staff for this story: Shuping Niu em Beijing, nshuping@bloomberg.net