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Wall Street volta à Arábia Saudita após assassinato político

Matthew Martin

23/04/2019 14h56

(Bloomberg) -- Alguns dos líderes do setor financeiro global estão de volta à Arábia Saudita, palco de algumas das maiores operações de fusão e emissão de títulos em 2019.

A chegada de importantes executivos de bancos a Riad é o toque final de uma campanha de agrados que durou seis meses, após protestos iniciais desses profissionais graduados contra o assassinato de Jamal Khashoggi, crítico do governo local.

O presidente do HSBC Holdings, John Flint, e Larry Fink, da BlackRock, não compareceram a um encontro de elite na capital saudita após o assassinato, mas estarão entre os palestrantes na conferência de dois dias que começa na quarta-feira.

"As pressões para não comparecer parecem bem menores neste ano", disse Paul Sullivan, especialista em Oriente Médio no Centro de Estudos de Segurança da Universidade Georgetown.

Khashoggi foi morto em outubro, após entrar no consulado saudita em Istambul. A questão maior é se o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman sabia o que ocorreria ou se mandou matá-lo ? possibilidade considerada provável pela inteligência dos EUA.

O governo americano colocou na lista negra 16 cidadãos sauditas pelo papel deles no assassinato, mas a crise diplomática praticamente não foi percebida no mundo dos negócios. A disparada de 40 por cento na cotação do petróleo desde o começo do ano também ajuda.

Operações de destaque

Europa e Ásia ficaram para trás e a Arábia Saudita realizou algumas das operações que mais chamaram a atenção no mundo inteiro em 2019. Neste mês, JPMorgan Chase, Morgan Stanley, HSBC, Citigroup e Goldman Sachs Group ajudaram a Saudi Aramco a levantar US$ 12 bilhões por meio de uma oferta de títulos que foi das mais procuradas por investidores até hoje.

Morgan Stanley e JPMorgan também assessoram a petrolífera na aquisição da empresa química local Sabic por US$ 69 bilhões.

Porta-vozes do Morgan Stanley, JPMorgan, HSBC e BlackRock preferiram não comentar.

Jamie Dimon, do JPMorgan, desistiu de comparecer ao encontro do ano passado, mas neste ano será representado pelo copresidente Daniel Pinto.

Clare Woodman, responsável por Europa, Oriente Médio e África no Morgan Stanley, também falará ao grupo de autoridades sauditas, líderes corporativos e banqueiros do mundo todo.

O boicote à cúpula de outubro foi um dos protestos mais visíveis do setor ao assassinato de Khashoggi. Desde então, gestores de recursos demonstraram a intenção de deixar o episódio no passado.

Ambiente promissor

David Solomon fez sua primeira viagem a Riad como presidente do Goldman Sachs e, pelo que se sabe, é o primeiro comandante de um grande banco americano a visitar o país desde a morte de Khashoggi. Executivos do alto escalão do Goldman sugeriram que a Arábia Saudita oferece um ambiente mais promissor para expansão das atividades de banco de investimento do que outras nações do Oriente Médio.

"A Arábia Saudita continua sendo um dos países mais ricos do mundo, com uma das maiores reservas de energia, o que ajuda a explicar o enorme interesse pela recente emissão de títulos da Saudi Aramco", disse Emily Hawthorne, analista da consultoria texana Stratfor Enterprises para Oriente Médio e Norte da África.

Nem todos os investidores estão prontos para perdoar e esquecer o que aconteceu. Há relatos de que o fundo de hedge Pharo Management, do Reino Unido, devolveu US$ 300 milhões ao banco central saudita em dezembro. A agência de talentos Endeavor buscou reverter um acordo pelo qual o Fundo de Investimento Público do reino compraria uma participação na empresa por US$ 400 milhões. O Teatro alla Scala, templo da ópera em Milão, recusou uma doação de 15 milhões de euros.

--Com a colaboração de Glen Carey, Alaa Shahine, James Hertling e Melissa Karsh.