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Após longa espera, momento do IPO do Uber está longe do ideal

Eric Newcomer, Elizabeth Fournier e Daniela Milanese

09/05/2019 11h19

(Bloomberg) -- Quando uma empresa espera uma década para abrir o capital, é natural desejar as melhores condições possíveis para fazer um IPO. Nesse sentido, 2019 não tem sido fácil para o Uber.

Depois de uma década tumultua como empresa privada, a startup mais valiosa dos Estados Unidos está finalmente pronta para fazer sua estreia no mercado. O Uber Technologies, gigante do segmento de aplicativo de transporte, espera a precificação das ações em sua tão esperada oferta pública inicial após o fechamento do mercado na quinta-feira. Embora a expectativa ainda seja de que será a maior abertura de capital no melhor ano para IPOs do setor de tecnologia desde 2014, é improvável que as ações subam para o nível esperado inicialmente.

O Uber captou recursos pela última vez em agosto com a Toyota Motor, com um valuation de cerca de US$ 76 bilhões. A empresa, que tem sede em São Francisco, agora avalia precificar as ações no ponto médio da faixa ou ligeiramente abaixo, segundo uma pessoa com conhecimento do assunto. Com isso, o Uber pode estrear com valor de mercado um pouco acima do preço em sua mais recente rodada de financiamento, de US$ 79 bilhões.

No ano passado, banqueiros que disputavam a coordenação do IPO disseram ao Uber que seu valuation poderia alcançar até US$ 120 bilhões em uma oferta inicial.

O ano começou turbulento, com o fechamento parcial da administração dos EUA, mas, desde o fim de março, o ritmo de IPOs se acelerou com Lyft, Pinterest e Tradeweb Markets tendo captado mais de US$ 1 bilhão cada. Os mercados, no entanto, não parecem compartilhar a mesma euforia, diante do aumento das tensões comerciais entre EUA e China.

"Estão olhando para o mercado, bem como para o que aconteceu com a Lyft", disse Dan Ives, analista da Wedbush Securities. A maior concorrente do Uber divulgou um prejuízo elevado em seu primeiro balanço trimestral como empresa pública. Na quarta-feira, a ação da empresa fechou 26% abaixo do preço do IPO, de US$ 72, avaliando a Lyft em apenas US$ 15,1 bilhões - exatamente o valuation obtido em sua última rodada de financiamento privado em 2018.

Arun Sundararajan, professor da Escola de Negócios da Universidade de Nova York, disse que, embora o IPO reforce o capital do Uber para aumentar sua participação no segmento de transportes, também pode pressionar a empresa a colocar as metas trimestrais à frente de suas ambições.

"O valuation de um trilhão de dólares virá se a empresa puder passar os próximos cinco a dez anos alcançando aquele nível onde o Uber é mais usado do que qualquer outra forma de transporte", disse Sundararajan. "O problema é que isso vai exigir manter os investidores calmos, diante da pressão sobre o Uber para dar lucro."

"A liberdade de jogar no longo prazo é significativamente reduzida quando a empresa abre o capital, mesmo quando os recursos para isso são aumentados", disse.

Como muitas empresas que fizeram IPOs em 2019, o Uber ainda dá muito prejuízo. A empresa teve perdas operacionais de US$ 3,04 bilhões no ano passado e receita de US$ 11,3 bilhões, elevando as perdas operacionais totais nos últimos três anos para mais de US$ 10 bilhões, segundo informações do prospecto.

Repórteres da matéria original: Eric Newcomer em San Francisco, enewcomer@bloomberg.net;Elizabeth Fournier em N York, efournier5@bloomberg.net;Daniela Milanese em São Paulo, dmilanese@bloomberg.net