Petrobras perde espaço para estrangeiras com boom do pré-sal
(Bloomberg) -- Durante décadas, a indústria petrolífera brasileira era sinônimo de Petrobras. Mas isso deve mudar à medida que grandes empresas internacionais acelerem a exploração em águas profundas no país com a maior produção da América Latina.
Mesmo que a Petrobras continue aumentando a produção de petróleo, a participação da empresa no total nacional pode cair para cerca de 50% até 2030 em relação à parcela atual de 74% e mais de 90% há apenas nove anos, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP). A rodada de leilões prevista para este ano será outra oportunidade para que grandes petroleiras ganhem mais terreno.
Para o diretor-geral da ANP, Décio Oddone, agora há muito petróleo para apenas uma empresa explorar e a produção deve crescer para todos.
O Brasil se tornou a melhor aposta da região para o crescimento de petroleiras internacionais depois de desmantelar regras nacionalistas para atrair investimentos. A Venezuela, por sua vez, enfrenta um colapso econômico, e o ritmo de modernização do setor petrolífero no México é lento. Com isso, o governo brasileiro arrecadou receitas recordes com leilões de blocos em 2017 e 2018 com a participação de empresas como Exxon Mobil e Royal Dutch Shell.
Ao mesmo tempo, a Petrobras tem como foco ajustar o balanço por meio de um programa de venda de ativos, em vez de expandir as operações além da capacidade financeira apenas para garantir seu domínio no país.
A participação da Petrobras na produção de petróleo encolheu nesta década, já que a estatal tem fechado cada vez mais parcerias com grandes petroleiras nos campos em que opera. Essa tendência deve ficar mais evidente, pois empresas internacionais agora também podem operar alguns dos melhores campos no pré-sal.
O Brasil tem potencial para mais que dobrar a produção de petróleo, para cerca de 7 milhões de barris/dia até 2030, disse Eliane Petersohn, assessora de Exploração e Produção da ANP. ela avalia que a produção da Petrobras vai crescer, mas a participação da empresa na produção do Brasil deve cair ao longo dos anos.
A queda da produtividade na Bacia de Campos, onde a Petrobras é a única operadora, também limita o potencial de crescimento da empresa, disse. A Bacia de Campos perdeu mais de 700 mil barris/dia de produção desde o pico de 1,8 milhão em 2012, segundo dados da ANP.
Próxima rodada
A ANP planeja mais uma rodada de leilões de campos já em produção em outubro. Embora a Petrobras tenha o direito de assumir a operação de dois dos quatro campos que serão oferecidos, a empresa pode optar por não participar se um concorrente der um lance que a empresa não pode superar. Exxon, Shell e BP manifestaram interesse na área.
A crescente presença estrangeira na indústria nacional de petróleo deve ficar mais evidente dentro de alguns anos, quando os investimentos em curso começarem a se traduzir em produção real, disse Oddone.
Para ele, o Brasil não é mais uma país com apenas uma empresa de petróleo e os dias de monopólio ficaram para trás.
Para contatar o editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net
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