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Boom de capital de risco na China dá sinais de esgotamento

Peter Elstrom

08/07/2019 07h18

(Bloomberg) -- Durante cinco anos, a China viveu um período de expansão dos investimentos em capital de risco que deram origem a uma nova geração de startups, como a gigante Didi Chuxing e a Bytedance, que controla a TikTok. Agora, o boom pode ter chegado ao fim.

As operações de capital de risco na China despencaram no segundo trimestre em meio à preocupação de investidores com a imprevisibilidade das negociações comerciais e valuations de startups. O valor dos investimentos no país caiu 77%, para US$ 9,4 bilhões no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto o número de operações diminuiu para cerca de 692, segundo a empresa pesquisa de mercado Preqin.

O segundo trimestre de 2018 marcou o pico dos investimentos em capital de risco da China, com um total de US$ 41,3 bilhões investidos. O valor inclui uma rodada de US$ 14 bilhões para a gigante de pagamento digital Ant Financial; US$ 3 bilhões para a novata de comércio eletrônico Pinduoduo; e US$ 1,9 bilhão para o aplicativo de transporte de cargas por caminhão Manbang Group (também conhecido como Full Truck Alliance Group). Em comparação, a maior operação de capital de risco no segundo trimestre de 2019 foi um investimento de US$ 1 bilhão na JD Health, o braço de assistência médica da empresa de comércio eletrônico JD.com.

A China nunca passou por uma crise generalizada como a dos Estados Unidos depois do boom da Internet, em parte porque o mercado de capital de risco do país é muito novo. Anos de crescimento constante em investimentos em tecnologia resultaram em lucros previsíveis - e enormes. Se o desaquecimento atual vai se tornar uma crise mais grave dependerá, em grande parte, de como as empresas de capital de risco, empreendedores e reguladores navegarão em mares que nunca viram antes.

"Estamos vendo estresse real no sistema pela primeira vez", disse Gary Rieschel, sócio-fundador da Qiming Venture Partners, que trabalhou na China e nos EUA. "Nunca vimos uma desaceleração no mercado chinês."

O boom do capital de risco na China começou em 2014, quando o Alibaba Group estreou na bolsa na maior oferta pública inicial de todos os tempos, deixando claro aos investidores o potencial do país mais populoso do mundo. Os acordos de capital de risco triplicaram naquele ano, para mais de US$ 17 bilhões, e aumentaram todos os anos até 2018, quando o total superou US$ 105 bilhões, quase tanto quanto nos EUA.

Ao longo do caminho, empresas como Qiming, Sequoia China, Tiger Global Management e o SoftBank Group apostaram em algumas das startups mais valiosas do mundo. A Bytedance, a força por trás do aplicativo de vídeos curtos TikTok e outros populares serviços, mostra um um valuation de US$ 75 bilhões, o mais alto de todos, segundo a CB Insights. Didi, o serviço de aplicativo de transporte que tirou o Uber Technologies da China, tem o o segundo maior valuation, de US$ 56 bilhões.

Mas a ascensão do setor de tecnologia da China colocou o país diretamente no fogo cruzado da guerra comercial. A administração Trump acusou a China de roubar propriedade intelectual e subsidiar injustamente empresas em campos estratégicos, como em semicondutores, inteligência artificial e direção autônoma. Em maio, os EUA colocaram a Huawei Technologies em uma lista negra, impedindo a gigante das telecomunicações de comprar componentes americanos, e agora avalia fazer o mesmo com um grupo de startups.

--Com a colaboração de Lulu Yilun Chen.